Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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A safra de Satanás

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de maio de 1944, N. 615, pag. 3

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Há presentemente uma subtil e subreptícia campanha a favor do suicídio. Esta campanha procura apresentar este crime como algo de glorioso, como um feito digno de heróis. Em geral, vem envolta com a descrição de episódios guerreiros da atualidade, em que são misturados habilmente o sacrifício da vida, ditado pelo dever, e o puro e simples suicídio, de maneira a ser difícil traçar a fronteira entre ambos. A nota constante, porém, é a apologia do desprendimento da vida, não daquele desprendimento pregado pela Igreja, por amor de Jesus Cristo, que não só nada aconselha de criminoso, mas induz à toda a perfeição espiritual, mas o desprendimento estúpido e irracional que destrói a vida por uma gloriola efêmera, num transe de delírio passional.

Entre vários exemplos que temos sob os olhos, é bem ilustrativo o caso narrado por um telegrama de Moscou. Um grupo de artilheiros, que, com sua metralhadora, barrava a passagem a um corpo do exército nazista, foi destruído por uma granada. Dois sobreviventes, gravemente feridos, o artilheiro e uma enfermeira, são alcançados então pelos soldados alemães: o primeiro é logo morto a tiro de revólver. Quando o mesmo vai acontecer à enfermeira, esta ordena imperativamente que a arma lhe seja entregue e, logo que lha dão, ela mesmo se mata por suas próprias mãos, depois de algumas palavras sublimes.

Neste estilo, a propaganda do suicídio vem sendo feita de modo sistemático, fazendo cair cada dia a sua gota envenenada sobre o ânimo perturbado da humanidade contemporânea. Estas sugestões continuadamente repetidas ficarão germinando inconscientemente, no fundo de muita afetividade descontrolada, para produzir subitamente um dia, em virtude de algum incidente talvez mínimo, a sua eclosão funesta. E isto está sendo feito com tal habilidade, que mesmo de episódios puramente de cumprimento do dever se extrai a sugestão maléfica, o desprezo imoral da vida. É assim que se cultivam as ondas de suicídios.

Tudo isto, porém, assume um aspecto tenebroso, quando se consideram o desregramento dos costumes, o endurecimento do coração e o afastamento de Deus, que caracterizam nefastamente a nossa época. Se tivermos em vista que uma multidão incontável de homens vive habitualmente em estado de pecado mortal, empedernindo-se mesmo neste estado, compreenderemos o sentido mais profundo desta campanha, que induz os pecadores a cumular seus crimes, dando-lhes consistência definitiva, com mais este último pecado de ódio e desespero: é Satanás que vem colher a sua safra bem amadurecida.

Há, também, um outro sentido, não menos satânico: consiste em induzir os homens ao desprezo de si mesmos, através do desprezo de sua vida, a fim de aceitarem o jugo da escravidão.


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