Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
"Dans leur bateau"

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de maio de 1944, N. 614, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Continua evoluindo a questão criada por Maritain. E o mais notável é que este filósofo francês, com seu novo liberalismo - que é o mesmo velho liberalismo do século passado, com estilizações aerodinâmicas - tem levantado aplausos por parte dos não católicos e dos católicos suspeitos, ao passo que tem provocado as mais violentas repulsas por parte dos católicos ultramontanos. Isto é um bom augúrio para os mundanos, mas, para nós, é um péssimo sinal. “Se fosseis do mundo, o mundo haveria de amar o que era seu...” “Ai de vós quando vos aplaudirem os homens, porque assim fizeram eles aos falsos profetas”.

Vimos, não faz muito tempo, como um dos amigos mundanos de Maritain enterrou todo o trabalhinho feito ativamente pelos seus partidários católicos, no sentido de dar uma interpretação ortodoxa à doutrina de seu mestre lá deles. O tal amigo veio entornar todo o caldo, mostrando que havia entendido esta doutrina conforme nós também a entendemos e combatemos; com a diferença que precisamente o atraía a interpretação heterodoxa.

Pois agora, a canoa do “mestre” recebeu mais um tripulante: nada mais, nada menos do que um infeliz apóstata. E nem ao menos se pense que isso represente o início de sua conversão. O que lhe agradou nas idéias de Maritain foi exatamente a justificação de sua apostasia, a lisonja feita à sua posição, que só pode confirmá-lo em sua atitude.

A primeira condição para a verdadeira conversão, é o reconhecimento cabal do erro cometido; se a pessoa não reconhece o seu erro como erro, como há de converter-se? E, no entanto, vejamos como este homem compreendeu Maritain:

“Pergunta aí Maritain “como pode ser duradouramente assegurada a paz, na sociedade temporal se, primeiro, no terreno que de mais perto toca os lares humanos - no domínio espiritual e religioso mesmo - não for possível estabelecer relações de mútuo respeito e compreensão? Diz ele depois que, se não é possível uma fusão de crenças, todavia é possível uma “comunhão de homens que creem”. A tese de Maritain encerra a doutrina verdadeira de Cristo. Só a fraternidade cristã assegurará a paz do futuro. Porque só esta fraternidade elimina ódios de raça e religião, ou outros preconceitos malsãos. As religiões no mundo de amanhã, procurando umas nas outras o que há de comum, e não o que há de diverso e contrário, hão de se religar, pelo que há de vital, de regenerador em todas. Até agora a apologética tradicional tem trilhado os descaminhos do coração humano. Buscar divergências e esmerilhar oposições, abrindo aí brechas para o ataque impiedoso, tudo será, menos cristão”. E tudo isto culmina no grande ideal do apóstata: “Esse princípio, o único realmente capaz de consubstanciar o essencial para uma união eficaz, é a pessoa do Cristo - não com qualquer preocupações dogmáticas, num sentido de absoluta fidelidade à ortodoxia (pois isso já seria um princípio separatista e dissociador), mas aquela personalidade augusta, que refulge no Evangelho, com uma evidência singular para os corações simples ignorantes de escolas e sistemas. Desse Cristo desataviado de silogismos, e que gostava de falar por meio de parábolas” etc., etc. (o resto da citação pode ser indagado aos hiper-litúrgicos, que podem dizer muitas coisas interessantes a este respeito).

E agora, de duas, uma: ou este homem não entendeu direito Maritain – e Maritain está obrigado a esclarecê-lo lealmente, o que fará, porém, com que se perca toda a graça que estavam achando na sua doutrina, que é justamente o aspecto interconfessional; ou então ele entendeu Maritain corretamente - e nesse caso Maritain não está com a Igreja. De qualquer forma a posição de Maritain é inútil e prejudicial, pois ou cria um equívoco entre os não católicos e a Igreja, ou trai a própria Igreja. A não ser que ele queira propositalmente estabelecer a confusão para pescar em águas turvas. Mas a Igreja não pesca em águas turvas. Pelo contrário, antes de mais nada Ela quer tudo esclarecer. “Seja o vosso modo de falar sim, sim, não, não, porque o que passa disso, vem do demônio”.


Bookmark and Share