Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Cristãos novos

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 27 de fevereiro de 1944, N. 603, pag. 2

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Agora que a nau do Eixo naufraga lenta mas irreparavelmente, é incontável o número dos que, apressadamente, querem safar-se à bordo das Democracias. Gente que, ainda ontem, namorava escandalosamente o nazifascismo, hoje se desdobra em mil expedientes para clamar em altas vozes sua fiel e incondicional adesão aos vencedores da hidra totalitária. E para que ninguém duvide de sua sinceridade, se põe a denunciar os quintas-colunas, encapotados sob o disfarce de democráticos.

Todos sabem o que pensar deste zelo de cristãos novos. Estes “convertidos” de última hora que, vencidos, também se querem mostrar convencidos, a ninguém poupam em suas acusações apressadas. Mesmo aqueles poucos que, nos tempos afortunados do Eixo, pareciam ser os últimos abencerragens do antitotalitarismo, quando estes mesmos democráticos vermelhos de hoje olhavam simpaticamente para o nazifascismo como uma força reconstrutora da civilização – mesmo aqueles poucos, dizíamos, não são poupados. A acusação seria torpe, se não fosse imbecil.

Entretanto, está sucedendo atualmente uma coisa muito interessante. Qualquer pessoa que briga com qualquer pessoa atira-lhe logo em rosto com a acusação infamante: “fascista!” Até parece que a inclinação do povo pelo insulto em baixo calão está encontrando derivativo nesta expressão. O que, se não deixa de ser mais limpo, não é menos deplorável, porque denota a permanência e o desenvolvimento do mesmo vício. Quando amanhã as expressões “fascista” ou “nazista” começarem a perder sua força patética, pela fossilização em que estes regimes caírem, assistiremos a uma nova florescência de nomes feios, mesmo nas discussões entre intelectuais.

Pois é o caso que o sr. Galeão Coutinho brigou com o sr. Otto Maria Carpeaux, que se acha integrado no grupo a que pertence o sr. José Lins do Rêgo e outros intelectuais. Vai daí, o sr. Coutinho chama o sr. Carpeaux, e por extensão a todo o seu grupo, de fascista. “Rodrigue, qui l’eut cru... - Chimène, qui l'eut dit” [trecho da famosa peça teatral “Le Cid”, de Corneille, n.d.c.] que até o sr. Lins do Rêgo fosse fascista?

Agora, na apuração das contas, parece que ninguém pode atirar a primeira pedra. Ninguém exceto alguns que sinceramente, em nome de sua Fé, combateram o fascismo e o nazismo apesar de tudo e contra tudo. Com esta lavagem de roupa de que só estes últimos não sairão salpicados, apenas lucrarão os velhacos que mudaram de bordo em tempo, e possivelmente poderão salvar-se em meio da turvação das águas.


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