Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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Paraquedismo

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 6 de fevereiro de 1944, N. 600, pag. 2

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Esta guerra fez aparecer uma nova tática de combate: o paraquedismo. Todos têm na memória os feitos fantásticos dos paraquedistas, nos grandes lances da atual conflagração, desde a inexplicável queda da fortaleza chave de Eben-Emael, na Bélgica, até o rapto de Mussolini. Até mesmo acontece que, quando sucede alguma coisa muito fora das linhas da lógica, a explicação é uma só: os paraquedistas fizeram. Explicação que todos aceitam, maravilhados da transcendência que assumiram certos aspectos militares e políticos desta guerra.

Os paraquedistas são todos jovens, na plenitude da floração orgânica, e cheios de habilidade, de audácia, de coragem. Consta mesmo que os nazistas costumam empregar meninos de 14 e 15 anos, fanatizados nas escolas hitleristas. Compreende-se perfeitamente que seja assim. A violência dos esforços físicos exigidos de um paraquedista exigem uma saúde de ferro e um vigor de aço. Qualquer desequilíbrio fisiológico, por menor que seja, logo se patenteia calamitosamente em meio aos trancos materiais e espirituais por que tem de passar o paraquedista.

Entretanto, há um certo gênero de paraquedismo, também próprio da presente guerra, para o qual só as pessoas idosas são aptas. Pelo menos, até agora só têm sido empregadas personalidades amadurecidas, e mais do que amadurecidas, que fizeram sua carreira em outros regimes, agora desaparecidos ou eclipsados. E estes personagens revelam uma aptidão inesperada. Veja-se, por exemplo, Darlan. Não fosse o atentado de que foi vítima, estaria até agora deslumbrando algumas plateias com sua habilidade de última hora. Porém, muito mais impressionante é o caso de Giraud. O velho general manco que pôs no chinelo todos os prestidigitadores, tirando intermináveis rolos de arame de dentro de alguns presuntos; que desbancou para sempre o Homem Invisível, atravessando a Alemanha de ponta a ponta, sem ser visto; que praticou, de quebra, algumas outras proezas rocambolescas, está aí como exemplo vivo, e escarmento ominoso dos espíritos céticos. Sabe-se até que o Barão de Münchhausen morreu de despeito ao saber de tão admiráveis façanhas.

Outro mago do paraquedismo é Benedetto Croce (1866-1952). O velho filósofo hegeliano transformou-se em porta-voz da Democracia. É verdade que durante a vigência do fascismo Croce deixou ouvir alguns resmungos: o idealismo fascista era mais dinâmico do que o idealismo de Hegel. Mas não é verdade que a filosofia de Hegel preparou o advento do fascismo, pois o hegelianismo é o fundamento filosófico mais sólido do totalitarismo. Todas as filosofias totalitárias contemporâneas acabam indo radicar-se, por qualquer forma, na filosofia de Hegel. Isto não impediu, entretanto, que Croce se arvorasse em corifeu da Democracia, na Itália; e o mais curioso é que ele foi aceito por tal.

Estará havendo nova semeadura subreptícia dos dentes do dragão? Por acaso todos os germes do nazifascismo não vão ser extirpados do mundo de amanhã? A opinião pública ficaria muito mais satisfeita se visse que, do lado das Democracias, só houvesse Democracia. Nada pior do que totalitários com a máscara de Democracia.


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