Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 30 de janeiro de 1944, N. 599, pag. 2 |
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O Rio de Janeiro tem certos costumes pitorescos, que nós aqui ignoramos. Entre eles está a devoção da primeira sexta-feira do ano, em que o povo procura benzer-se, afluindo em massa à Igreja de São Sebastião, dos Frades Capuchinhos. Esta devoção é perfeitamente justificável e, mesmo, edificante, e demonstra a permanência, nas últimas fibras da alma popular, do espírito católico com que foi argamassada a nacionalidade. A sexta-feira é o dia da semana consagrado ao Coração de Jesus, porque lembra o dia da Paixão, o dia em que Nosso Senhor morreu na Cruz pelos homens, e teve o Sagrado Coração transpassado por uma lança, como para patentear os extremos de seu amor. Nada mais belo, pois, que estes sentimentos assaltem os corações na primeira sexta-feira do ano, e que todos procurem abrigar-se à sombra do Coração de Jesus. Infelizmente, porém, idéias supersticiosas podem mesclar-se à prática de uma devoção tão bem fundada na doutrina católica. Contribuem para isso a ignorância religiosa e o ambiente pagão de nossos dias que, em todas as coisas, induz à procura de vantagens temporais. É assim que muitos procuram a Igreja de São Sebastião na primeira sexta-feira do ano e querem receber a aspersão de água benta, com o fito de ficarem livres de azar durante o ano. Vê-se perfeitamente nisso que, sobre um fundo de confiança no poder e na benevolência de Nosso Senhor, louvável e digno de apreço, desabrocha parasitariamente um sentimento fetichista, inteiramente contrário ao Catolicismo. Ora, é lamentável que um jornal do Rio de Janeiro, fazendo uma reportagem sobre o assunto só tenha apresentado estes aspectos supersticiosos, que se enroscam na devoção da primeira sexta-feira do ano, como se eles constituíssem toda a devoção. De acordo com a reportagem deste periódico, a multidão que se comprimia na Igreja de São Sebastião, lá teria ido com o mesmo espírito dos que procuram cartomantes, benzedores, vão a sessões espíritas e frequentam macumbas. Isto, aliás, parece inspirado por um certo movimento que favorece a eclosão de uma “religião brasileira”, que não seria propriamente a religião Católica, mas um produto espontâneo da alma popular. Não sabemos se tal “religião” seria inteiramente espontânea; o fato é que ela seria certamente um produto teratológico da ignorância, da incúria e do abandono em que jazem grandes porções de nosso povo, que além das endemias do corpo, ainda teriam a confusão do espírito. Graças a Deus, porém, a mesma força iluminadora e vivificadora da Igreja que formou a nossa civilização, impedirá que as trevas toldem os horizontes da Pátria. |