Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 19 de dezembro de 1943, N. 593, pag. 2 |
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Graças a Deus, todo mundo hoje em dia está unido na mesma repulsa ao nazismo. Esta folha não podia ficar mais satisfeita com o fato, pois isto representa para nós o fruto de uma campanha prolongada e ingrata, num tempo em que havia disseminadas por aí muitas simpatias mais ou menos declaradas pelos totalitarismos. De tudo fomos então acusados, até de comunistas. A situação criada pela nossa aguda oposição ao hitlerismo chegou a tornar-se asfixiante. De repente, porém, a atmosfera distendeu-se. Já não se sabe, hoje, quem eram os partidários ou simpatizantes do nazismo. Só se vê por aí a farta messe dos aderentes entusiastas das democracias. Parece que uma varinha de condão tudo transmudou maravilhosamente. Ninguém é, ninguém era, ninguém jamais foi nazista ou amigo do nazismo. Onde estão as pessoas “prudentes”, que achavam que afinal era preciso a gente ser equilibrado, sabendo reconhecer a complexidade das questões envolvidas no totalitarismo? De uns tempos para cá, sucederam coisas mirabolantes. Darlan arrepende-se de seus pecados, rompe com Pétain, foge para Argel, e morre mais democrático do que o próprio De Gaulle. Giraud, velho e manco, atravessa a Alemanha incógnito, numa fuga surpreendente e inacreditável, para fazer pública profissão de sua fé democrática. Na Jugoslávia, oficiais proeminentes do exército “quisling” se convertem milagrosamente à democracia, e se penitenciam de seus crimes passando-se para o exército do general Tito, personagem misteriosa, que ninguém sabia quem era, e ninguém sabe de onde vem, o mais prodigioso “deus ex machina” que já se tenha visto. Na Grécia, forma-se um governo de resistência, em lugar inacessível, talvez no alto do Olimpo, formado de personalidades que estavam no limbo, em perfeito estado de conservação e saúde. E a gente fica sem saber que papel fazem, nisto tudo, os governos do rei Pedro e do rei Jorge, a flutuar como balões desgarrados que, depois de exilados, foram postos entre parêntesis. E muito menos a gente sabe o que fica fazendo o general Mikhailovich, que foi o fermento da rebelião espontânea do povo jugoslavo, antes da invenção do general Tito. Por toda a parte, a ronda dos fantasmas, que surgem dos destroços fumegantes da Europa, do inferno ululante criado pelo nazismo, tudo está envolvendo, assenhoreando-se dos movimentos de libertação, brotados espontaneamente do anseio de liberdade dos países ocupados. Só há uma excepção: a Casa de Saboia. Por mais que faça, a Casa reinante da Itália não consegue estabelecer-se nos arraiais democráticos. Há uma infinidade de prevenções e suspeitas contra ela. Os fantasmas, porém, prosseguem a sua ronda. Se isto for até o fim, quando a guerra terminar haverá três dinastias a menos na Europa, e três governos títeres de Moscou. Mas nós esperamos que triunfe a causa da liberdade. Quando o pesadelo nazista for afastado da terra, nada poderá impedir que os povos, fartos de opressão, reclamem seus legítimos direitos, e afastem definitivamente os fantasmas de um mundo morto, recusando o comunismo, como souberam repudiar o nazismo. Que os mortos enterrem os seus mortos. Um novo [Tratado de] Munique há de ser impossível. |