Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Baboseiras espíritas

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de novembro de 1943, N. 589, pag. 2

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Temos em mãos uma revista espírita. São os ossos do ofício: precisamos remexer o monturo. Tapemos o nariz, arregacemos as mangas. Coragem!

A peça de resistência da tal revista é uma série de promoções do sr. Alcides Gentil, promotor no Rio de Janeiro e prócer do movimento espírita brasileiro. Pondo o Ministério Público ao serviço do espiritismo, o sr. Gentil pleiteou o arquivamento de três processos movidos contra os exploradores das superstições populares.

Ora, aconteceu que uma destas promoções, cheias de ataques à Igreja, veio a público e provocou as naturais reações. O sr. Gentil achou que devia sustentar a polêmica. Pelos Jornais? Nada disso. O Sr. Gentil replicou num outro processo criminal. É muito interessante que o promotor-espírita comece afirmando nunca haver esperado que sua primeira promoção conhecesse o “impudor da exibição (sic) que os jornalistas facilitam aos amigos”. Francamente, já temos ouvido falar muita coisa dos jornalistas e dos amigos, mas isto também é demais!

Entretanto, o Sr. Gentil, tão impudicamente exibido, acha que é cabotinismo fazer reboar na imprensa o “estrondo de seu nome”. Por isso depositou sua réplica no recato dos autos judiciais (“esta é a tribuna de onde lhes darei a resposta que merecerem”) naturalmente para evitar o cabotinismo de uma nova exibição impudica. Com isto, desta tribuna não cabotina, o público seria privado de conhecer a defesa do promotor, é verdade. Mas, em compensação, o nome do Sr. Gentil ficaria livre de um novo estrondo. Contudo, o estrondo se deu (sempre estes amigos jornalistas), evidentemente à revelia do Sr. Gentil que, modestamente, nunca esperou esta nova publicidade.

Ora, o Sr. Alcides Gentil, de tanto compilar e catalogar as idéias alheias acabou por não saber concatenar as próprias. O seu estilo encoscorado é uma espécie de estrada esburacada, em que as idéias caminham aos arrancos, se empurram, se encontram, se perdem, e levam trambolhões. De tudo, fica apenas um babujar de ódio contra a Igreja.

O Sr. Gentil afirma coisas deste quilate: “Vai por dois mil anos o cristianismo forceja, sem resultado nenhum, por endireitar o homem, independentemente das condições objetivas da realidade social, entre as quais predominam as correlações do interesse econômico”.

Os adeptos da doutrina social de Leão XIII vivem “a mastigar as divagações pueris da Rerum Novarum”. E diz ainda: “Ao Tribunal de Segurança, por traição à minha pátria, nunca serei chamado; mas esse tribunal, que já condenou sacerdotes católicos, está processando outros, por felonia cometida contra a nação brasileira.” Referindo-se aos charlatães espíritas, que propinam drogas aos infelizes doentes embaídos na sua ingenuidade, afirma o Sr. Gentil que “atender a fiéis, sem o intuito de remuneração, equivale, sem dúvida, a dar uma assistência espiritual muito mais generosa do que aquele que cobra, a dinheiro contado, a missa, o batismo, ou a encomendação de mortos”. E o Sr. Gentil vai desvairando de tal forma, que acaba por dizer que existe apenas uma “única ideia realmente profunda, na doutrinação do presidente Getúlio Vargas”. E, por fim, metendo definitivamente os pés pelas mãos, alucinado, insulta o Brasil e seu Governo: “Já possuo, no arsenal da minha documentação, numerosos fatos por onde se vê que esta pátria é madrasta para muitos filhos de escol e pródiga de favores para muitos infames”.

A Igreja não precisa nem deve defender-se destes histerismos anticlericais; eles se destroem por si mesmos, e só podem ter acolhida em pessoas do mesmo estofo de quem os profere. Queremos apenas desmascarar um embuste, de que os espíritas deram de fazer riso, e de que também lançou mão o Sr. Gentil.

Afirmam estes infelizes que as sessões espíritas não podem ser condenadas pela Igreja, pois a Bíblia nos oferece o exemplo de uma autêntica evocação de mortos. E lá vêm eles com o famigerado caso da pitonisa de Endor, que, a pedido de Saul, evocou a alma do profeta Samuel. Sim, é verdade: no Livro dos Reis encontramos uma verdadeira sessão espírita. Apenas os espiritas não apresentam o texto completo e nós vamos citar aqui a parte que eles omitem:

“Saul, pois, disfarçou-se, e tomou outros vestidos, e partiu ele e dois homens com ele, e chegaram de noite à casa da mulher, e disse-lhe: Adivinha-me pelo espírito de Piton, e faz-me aparecer quem eu te disser. E a mulher respondeu: Tu bem sabes tudo o que fez Saul, e como exterminou do país os magos e os adivinhos; por que armas, pois, ciladas à minha vida, para me matarem? E Saul jurou-lhe pelo Senhor, dizendo: Viva o Senhor, que disto não te virá mal algum. E a mulher disse lhe: Quem queres tu que te apareça? Saul disse: Faz-me aparecer Samuel. E a mulher tendo visto aparecer Samuel, deu um grande grito, e disse a Saul: Por que me enganaste? Tu és Saul”.

Por que se disfarçou Saul para consultar a pitonisa? Por que esta tinha medo de ser morta se evocasse os espíritos? Por que aquele mesmo Saul exterminava do país magos e adivinhos? Por que, enfim, a pitonisa gritou de pavor ao perceber que estava diante de Saul? A resposta encontra-la-emos na lei que Deus deu ao seu povo: “Não se ache entre vós quem consulte adivinhos ou observe sonho e agouros, nem quem use malefícios, nem quem seja encantador, nem quem consulte os pistões, ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade“ (Deut. XVIII, 10-11).

Era por isso que Saul perseguia e exterminava os que evocavam os mortos; e foi por isso que ele se disfarçou, quando, por sua vez, quis consultar a alma de Samuel. E por que fez isto? Porque, tendo sido a princípio bom rei, veio a prevaricar depois, e por isso recebeu a maldição de Deus e ficou possesso do demônio; a realeza devia passar para David, como de fato aconteceu. No dia seguinte à consulta, Saul foi morto, derrotado pelos Filisteus. Era, portanto, um homem perdido, desvairado e abandonado de Deus.

Portanto, a sessão espírita que a Escritura nos apresenta significa o último grau da degradação de Saul: ele, que outrora perseguira os magos para cumprir a lei de Deus, agora, disfarçado, se socorre de uma pitonisa, no extremo de seu desespero.

Na passagem da pitonisa de Endor, nós vemos, pois, o exemplo do estado miserável a que desceram as pessoas que praticam o espiritismo.

A Escritura sagrada é lição para a nossa vida, e nos mostra não só o bem que sucede aos bons, mas também o mal que acontece aos maus. Assim, não pode haver maior insânia do que imitarmos o que nos foi apontado para escarmento. Esta é a insânia dos espíritas que pervertem dolosamente o sentido claro e patente da Escritura. Deste naipe são os argumentos dos espíritas.

Vejamos, porém, no ódio venenoso do Sr. Gentil mais uma prova insofismável do antagonismo irredutível que separa o Catolicismo do espiritismo. E agora destapemos o nariz, e respiremos o ar puro.


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