Plinio Corrêa de Oliveira

Legionário, 22 de agosto de 1943, N. 576, pag. 2

Na semana passada a “Folha da Manhã” publicou um comentário acerca da pasteurização obrigatória do leite, em que há algumas coisas sumamente importantes.

Em primeiro lugar, fica-se sabendo que é obrigatória a pasteurização do leite, em todos os lugares do Estado, onde já existem usinas adequadas, sendo de notar que a intenção é espalhar tais usinas por toda a parte. Em segundo lugar, sabe-se que, onde estas usinas já estão instaladas, a pasteurização ordenada pelo Estado é tão absoluta, que os próprios produtores são proibidos de consumir imediatamente o leite que ordenharam, sendo obrigados a entregá-lo às usinas. Em terceiro lugar, que este serviço tem por consequência um verdadeiro monopólio a favor das usinas. Em quarto e último lugar, que não está perfeitamente verificado, cientificamente, que a pasteurização do leite seja eficaz, havendo quem sustente precisamente o contrário, a saber, que depois da pasteurização o leite poderá estar menos puro do que antes.

Eis aí uma porção de coisas verdadeiramente admiráveis. Afinal, o nosso povo já é tão prejudicado pelo tracoma, pelo amarelão, pela maleita, pela ignorância, pela sujeira, pela pobreza, pelo abandono, e por outras coisas, que é bem justo que seja protegido das calamidades terríveis, que se aninham no leite. Entretanto, é preciso considerar que, no Brasil, o leite tem sido mais prejudicial pela ausência, do que pela presença.

De fato, em nosso limitado conhecimento empírico de leigos, não sabemos das epidemias provocadas pelos bacilos do leite; os técnicos saberão. O que é certo é que a ausência do leite é responsável por uma das mais graves endemias brasileiras: a subalimentação.

Além do mais, a pasteurização obrigatória, tal como está sendo praticada, representa uma intromissão demasiada do Estado na vida privada, principalmente se se tiver em vista que não são positivos os efeitos da pasteurização. Esperamos, porém, que em São Paulo se limitem quaisquer abusos neste assunto.