Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Ainda a A.C.M.

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de julho de 1943, N. 570, pag. 2

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Fala-se agora no cinquentenário da instalação da Associação Cristã de Moços, no Brasil. A respeito da efeméride, a imprensa tem publicado notícias, em que se faz uma discreta e eficiente propaganda desta instituição. De fato, este modo suave e sem estardalhaços de fazer publicidade da A.C.M. é o mais eficaz, porque coloca esta associação no rol das coisas sabidas, conhecidas, aprovadas e normais, na vida da coletividade; assim, a A.C.M. fica erigida em tabu. Para ela, nem o noticiário escasso e oculto das coisas católicas, nem a propaganda destemperada dos produtos que estão encontrando relutância.

Ora, através de semelhante propaganda, para a qual tudo é bom pretexto, inclusive o cinquentenário, a gente fica sabendo de uma porção de coisas instintivas, a respeito da A.C.M. Fica-se sabendo, por exemplo, que a A.C.M. procura proporcionar aos jovens modos de empregar frutuosamente as suas horas livres, de maneira que, em vez de as desperdiçarem em divertimentos ociosos, e quiçá perigosos, as aproveitam no cultivo da própria personalidade, coisa que não deixa de ser edificante. Mas não é só. A A.C.M. vai mais longe, e, em grandes edifícios, onde há soberbas instalações para a cultura física, e onde funcionam um sem número de cursos sobre todas, ou quase todas as especialidades, visa a educação integral da juventude, o que chega a ser até comovente.

Apenas encontramos uma lacuna: entre tantas maravilhas que enfeitam a Associação Cristã de Moços, não há nada que se relacione com Jesus Cristo, nem com a eterna salvação das almas. Parece que a A.C.M. só se dedica às coisas deste mundo, e procura apenas que os seus membros gozem, ou venham a gozar da maior soma de felicidade aqui na terra. Não chegamos, mesmo, a compreender porque é “Cristã”, esta associação de moços. Podia chamar-se, perfeitamente, Associação Budista de Moços, ou Associação Muçulmana de Moços, ou, mesmo, Associação Pagã de Moços; não faria grande diferença.

Puro humanitarismo: eis a alma da A.C.M. Ora, o humanitarismo é um dos adversários mais perigosos do Cristianismo exatamente porque apresenta algumas semelhanças acidentais com ele. O Cristianismo, visando em primeiro lugar a Glória de Deus, põe todas as coisas - o homem antes de tudo - ao serviço deste objetivo e, por aí, os homens atingem a eterna bem-aventurança. O humanitarismo, pelo contrário, visa, em primeiro lugar, satisfazer a natureza humana, a isto subordinando todas as coisas, mesmo as religiões (qualquer religião: o humanitarismo não tem preocupações de ortodoxia).

O humanitarismo explora os movimentos religiosos, mas, no fundo, nega a própria ideia de religião. Ele tudo ignora, e nada quer saber da vida divina, que Jesus Cristo veio trazer aos homens, diante da qual a vida natural não tem outro valor senão o da mais completa submissão.

Nós, porém, católicos, sabemos que de nada vale ganhar o mundo inteiro, se se vier a perder a alma. Que valem o sucesso, e o triunfo neste mundo? “A figura deste mundo passa”, diz São Paulo. Não nos deixemos prender por figuras que passam e não têm realidade. A grande realidade, que não passa, mas é de uma consistência infrangível, é a Eternidade.


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