Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A reforma de Londres

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de julho de 1943, N. 569, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Desde que cessou a ofensiva aérea nazista contra a Inglaterra, ofensiva que visou Londres de modo todo especial, os urbanistas ingleses começaram a formar projetos de remodelação de suas antigas cidades, principalmente de sua Capital. De fato, depois de tão grandes destruições, era necessário, desde logo, começar a pensar na reconstrução. Agora, segundo informa a imprensa, estes planos urbanísticos já estão prontos, ou quase.

Como se sabe, a Inglaterra sempre foi tradicionalista. E, por causa disso, as suas cidades, apesar de todo o progresso, não perderam sua fisionomia tradicional, e não se assemelham, portanto, às grandes metrópoles do mundo. Londres, com sua extensão desmesurada, é, em grande parte, uma cidade de ruas estreitas e tortuosas, conservando nas zonas mais importantes aspectos ainda provenientes da Idade Média. O grande respeito à propriedade e aos direitos individuais, que caracteriza o espírito inglês, contribuiu em larga parte para a manutenção deste estado de coisas. Para rasgar avenidas seria necessário desapropriar muitas casas e incomodar muita gente, seria necessário fazer com que o poder público interviesse muito intimamente na vida privada dos cidadãos. Quem conhece um pouco a História da Inglaterra perceberá logo a impossibilidade de tal intervenção.

Eis, entretanto, que vieram os bombardeios, e realizaram brutalmente muito mais do que o governo ousaria sonhar. O mal é irreparável: lugares sagrados pela História, foram arrasados pelos alicerces. É verdade que eles obstruíam a realização de planos de urbanismo. Agora, em lugar de uma igreja medieval haverá um parque ou uma avenida; mas o que Londres ganhar em beleza estrutural, perderá em beleza espiritual, que a fazia admirada de todas as pessoas cultas. Haverá uma verdadeira perda de substância: Londres será melhor traçada, mas será menos Londres, o seu velho e prestigioso perfume se evolará. E nas suas novas avenidas largas, de ângulos retos, se estabelecerá o império do anonimato e da banalidade. Talvez seja até mais higiênico, mas será menos humano.

Por isso mesmo, os planos de reforma de Londres prevêem a formação de verdadeiras ilhas de tradição e de história, regiões inteiras da cidade, que serão religiosamente conservadas com todas as suas características, em meio à nova metrópole. E se, a exemplo disto, nós ainda tivéssemos a nossa Rua São Luiz?

Afinal de contas, São Paulo ainda será São Paulo? Ainda nos resta a Praça da República, mas afirma-se que ela já é anacrônica, e deve desaparecer. Então, certamente poder-se-á dizer: não, isto não é São Paulo.


Bookmark and Share