Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Açúcar

 

 

 

 

 

 

Legionário, 16 de maio de 1943, N. 562, pag. 2

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O Instituto do Açúcar e do Álcool distribuiu recentemente à imprensa um comunicado, em que há revelações do mais alto interesse. Por aí se vê, que, em nosso Estado, existia, e ainda não deixou de existir completamente, uma situação que, pelo menos, deve ser taxada de anômala, na indústria açucareira. De fato, afirmou o comunicado do Instituto que os usineiros de São Paulo vendiam, e ainda vendem, o seu produto por preços sensivelmente mais altos do que os que vigoram nos outros Estados; ao passo que estes mesmos usineiros compravam a cana aos lavradores, pelos preços mais baixos de todo o país.

O Instituto do Açúcar e do Álcool resolveu, então, aumentar esses preços, a fim de que também os lavradores tivessem alguma participação nos lucros dos industriais, sendo que, mesmo assim, esta participação continua inferior à que se verifica nos demais Estados. Ora, acontece que os usineiros de São Paulo não se conformaram com a tal modificação, e pretendem continuar a auferir os mesmos lucros de outrora, em detrimento dos plantadores de cana.

Não nos espanta esta atitude dos usineiros. O uso do cachimbo faz a boca torta, principalmente em se tratando de um tal cachimbo. Os usineiros de São Paulo se haviam habituado, de há muito, aos gordos proventos que lhes garantia o monopólio que estabeleceram a seu favor – monopólio que, seja dito de passagem, é em grande parte responsável pela crise de açúcar que agora se verifica no Sul do Brasil. É, pois, explicável que não estejam satisfeitos. Mas nós, que de tal monopólio só conhecemos o lado negativo, só podemos aplaudir e louvar a medida adotada pelo Instituto do Açúcar e do Álcool, pela simples razão de que é justa.

O monopólio da indústria açucareira, tal como se vinha praticando entre nós, é contrária à Moral Católica, por duas razões. Em primeiro lugar, porque sacrifica os interesses da coletividade consumidora, em proveito de um pequeno número de industriais. Em segundo lugar, porque sacrifica os legítimos interesses da coletividade produtora de cana, sempre em proveito de um grupo, numa verdadeira escravização dos agricultores.

Infelizmente, é muito comum acontecer que as classes agrícolas, que constituem a verdadeira fonte da economia nacional, e onde se encontram as nossas tradições mais vivas e mais puras, sejam sacrificadas e reduzidas a um estado de quase permanente penúria, em proveito, frequentemente, de plutocracias cosmopolitas e parasitárias.

Exatamente um dos aspectos mais simpáticos da recente deliberação do Instituto do Açúcar e do Álcool é ter vindo em auxílio de nossos pobres patrícios, que, obscuramente, constroem a grandeza nacional, e que se vêm, quase sempre, espoliados dos frutos de seus trabalhos.

Por isso, agiu bem o Instituto, vindo melhorar uma situação que não se compadecia com a Moral da Igreja.


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