Plinio Corrêa de Oliveira

 

Coeducação

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de março de 1943, N. 555

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É indiscutível que uma das maiores vantagens da recente lei de reforma do ensino consiste na expressa proibição de funcionarem, a partir do corrente ano, estabelecimentos de ensino secundário, com classes indiscriminadamente destinadas a ambos os sexos. No momento em que se acentua a campanha movida contra esta verdadeira medida de salvação pública por certo jornal que, ainda há pouco, advogava a causa do divórcio e do espiritismo, indispensável é que a opinião católica se exprima de modo indisfarçável, fazendo sentir que o Brasil inteiro aplaudia a extinção das classes mistas.

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Há um certo modo de considerar o problema, que o desloca inteiramente dos verdadeiros termos. Não se pode pretender que em assunto de tamanha monta possam ser de qualquer peso os argumentos de caráter econômico. Os adversários da coeducação sustentam que a promiscuidade dos sexos, na vida escolar, é uma fonte funestíssima de desordens que, ainda mesmo quando limitadas ao terreno estritamente afetivo e psicológico, produziriam os mais catastróficos efeitos. Se esta afirmação é verdadeira, nada haverá mais estulto do que pretender que o país se deve expor a estas catástrofes, a título de economia. Gastar dinheiro com escolas para educar o povo e, ao mesmo tempo, transformar estas escolas em causas sistemáticas de ruínas morais para evitar que a despesa cresça de vulto constitui uma política educacional absolutamente louca.

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Como se vê, o problema consiste em saber se realmente os adversários da coeducação têm fundados motivos para sustentar sua tese. Em caso afirmativo, não há economia que compense os desastres da coeducação.

Em caso negativo, por menores que sejam as despesas que a extinção dos cursos mistos acarretam, não devem ser feitas, porque é sempre um erro gastar para remover perigos irreais. Neste assunto, pois, não se fale em dinheiro.

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Também deslocam o problema de seus verdadeiros termos os que pretendem encontrar um terreno intermediário entre os coeducacionistas e seus adversários com a afirmação de que os inconvenientes da coeducação, se bem que eventualmente reais, não são de monta a exigir gastos consideráveis acarretados pelo desdobramento dos cursos. Se realmente a coeducação produz inconvenientes, devem ser necessariamente gravíssimos. Há terrenos em que o meio termo é impossível. Em tudo quanto se relaciona com o desregramento dos costumes, não há meio termo possível.

As duas únicas posições estáveis são a da virtude completa e a da corrupção sem freios. O meio termo é sempre uma rampa. E uma rampa pela qual nunca se sobe e sempre se desce.

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Como vemos, o único problema consiste em saber se a tese católica contrária à coeducação é verdadeira. Todos os outros argumentos não são mais do que subterfúgios, destinados a ocultar aos olhos do público o verdadeiro aspecto do problema. E têm razão para isto os coeducacionistas. Porque o enunciado real do problema é simplicíssimo: trata-se de saber se o convívio diário, durante várias horas de intimidade, no estudo e no recreio, no trajeto para a escola e na volta para casa, entre jovens de curso secundário de ambos os sexos, pode ser feito impunemente; se a influência nefasta do cinema, dos romances e de todo o ambiente moderno não despertará, necessariamente, em muitas alunas o desejo da exibição, dos sucessos, e da rivalidade entre as colegas sequiosas de admiração; se, nos adolescentes, este convívio não produzirá a fermentação desordenada e brutal de todas as fantasias, de todos os instintos, e, talvez, de todas as ousadias; se a efervescência constante de tantos instintos não formará gerações indisciplinadas até o mais íntimo do ser, e, por isto mesmo, adversas ao vínculo augusto da fidelidade conjugal, almas de uma sobre-excitação crônica, para as quais serão sem sabor as alegrias austeras do lar e só a voragem dos cassinos ainda conseguirá interessar.

Posto o problema, a solução jorra espontânea, para todos os que possuem o propósito sério e firme de preservar as tradições cristãs católicas da família e da civilização brasileiras. Não é preciso saber sociologia, nem pedagogia, para acertar com a solução.

Basta o bom senso.


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