Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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A canonização de Nero

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de janeiro de 1943, N. 545, pag. 2

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Nero vendo os cristãos sendo amarrados como tochas vivas para serem queimados em Roma (detalhe da representação feita pelo pintor Henryk Siemiradzki, Museu Nacional de Cracóvia) 

O LEGIONÁRIO já tem, por várias vezes, refutado uma curiosa e paradoxal opinião, que o espírito conformista de nossa época faz renascer, com certa frequência, em determinados meios católicos. De acordo com tal opinião, as perseguições religiosas seriam, sempre, um benefício para a Igreja.

Assim, todos os conceitos, que até agora aqui pareciam indiscutíveis, em matéria de História eclesiástica, deveriam inverter-se radicalmente. Nero? Conrado? Juliano o apóstata? Saladino e Bajazé? Admiráveis e oportuníssimos instrumentos da Providência para a purificação das almas, aplicando à Santa Igreja a salutar disciplina do látego, prestaram-lhe um benefício incomparável, proporcionaram-lhe uma medicina drástica e soberana, que só das mãos cirúrgicas destes algozes se poderia esperar. Por isto mesmo, Constantino, Teodorico, Carlos Martel, Godofredo de Bouillon não foram senão espíritos insofridos, que estrabaram a ação da Providência, quebrando o látego medicinal dos simpáticos algozes, por ela suscitados, para maior glória de Sua Igreja.

Como se vê, seria difícil não deduzir de tudo isto que os srs. Hitler, Calles, Stalin são dos melhores benfeitores da Religião em nossos dias.

Não há erros, por mais evidentes que sejam, que não contenham ao menos uma parcela de verdade. É certo que Deus, que tira o bem do mal, sabe tirar proveito das arremetidas que contra a Igreja desferem seus adversários. Daí não se deduza porém que a perseguição é o único meio de purificar as almas. Nosso Senhor a permite, mas não a deseja. E, por isto, devemos sempre reagir energicamente contra a perseguição e os perseguidores.

Tocamos aí no ponto agudo da questão. Na generalidade dos casos, esta sinuosa tese histórica da benemerência dos perseguidores encobre, apenas, a tendência de cruzar os braços ante a perseguição, renunciando a qualquer luta, e estabelecendo sob o rótulo de uma cômoda resignação, um teor de relações entre os católicos e seus adversários, que longe de ser de combatente a combatente, é a do paciente que se deixa mansamente retalhar pelo bisturi salvador do cirurgião.

Querem os leitores ter a certeza disso? Observem as opiniões destes turiferários da perseguição, e verão que, enquanto eles acham que o flagelo dos adversários é o melhor remédio para os católicos, são sistematicamente contrários a que façamos aos não católicos a caridade de lhes aplicar a mesma medicina salvadora. Chibata é para nós. Para nossos adversários, sorrisos.

Em uma palavra, o essencial é não lutar.


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