Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Ainda a cremação de cadáveres

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de novembro de 1942, N. 536, pag. 2

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Ao mesmo tempo, vários assuntos de interesse imediato da Igreja: os sacerdotes sujeitos ao imposto de celibato, a oportunidade da instrução do divórcio a vínculo no Brasil, e também volta à baila a cremação de cadáveres.

É interessante notar como, de tempos a tempos, com frequência periódica, surge à tona, como uma obsessão esta ideia de se queimarem os cadáveres. Ainda agora acaba de ser reservada, em certo cemitério desta Capital, uma quadra especialmente destinada à futura instalação de um forno crematório, naturalmente de último tipo, com todos os acessórios mais modernos, e até já se presume que será munido de ar condicionado e luz fluorescente. É tal a insistência com que certas pessoas propugnam a introdução entre nós desta novidade tão contrária às nossas tradições, à nossa índole e à delicadeza de nossa consciência católica, que até se poderia pensar que, ao lado dos grandes problemas que afligem a nacionalidade, também existe a “questão dos cadáveres”. Dir-se-ia mesmo que, ao contrário do que afirmou o mui elaborado Comte, os vivos são cada vez mais incomodados pelos mortos.

Afinal de contas, parece-nos feio que os vivos se ponham a disputar o espaço vital dos mortos, que, de si mesmo, já é tão reduzido e mesquinho. Graças a Deus, o espaço vital brasileiro é de uma enorme extensão, e seria extremamente deselegante que nos puséssemos as migalhas com os pobres cadáveres. Felizmente não estamos a braços com uma superprodução de cadáveres, que justificaria a aplicação da drástica medida, como se fez com o problema da superprodução do café (o qual, aliás, foi tão energicamente resolvido, que se transformou no problema da escassez do café).

Em tudo isto, porém, se patenteia a grande diferença que há entre os tempos modernos e os antigos. Antigamente, ninguém sequer cogitava em perturbar o sono dos que, em suas tumbas, aguardam a grande alvorada que será anunciada pelas trombetas do Juízo Final. Em compensação queimavam-se os vivos que eram nocivos à coletividade. Hoje, pelo contrário, apagaram-se as fogueiras da Inquisição; Hitler & Cia. tiveram ampla liberdade para incendiar o mundo. Em compensação, acendem-se fogueiras fúnebres para destruir inofensivos cadáveres e ressuscitar um hábito pagão.

Em verdade, estranha contradição.


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