Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A contradição

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de outubro de 1942, N. 530, pag. 2

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Depois dos festejos com que se comemorou o IV centenário da Companhia de Jesus; depois que a esta ilustre Ordem se prestaram os tributos da gratidão e do reconhecimento de quanto deve o Brasil à milícia inaciana, já estava faltando a voz dos contraditores que, num eco soturno, viesse procurar denegrir os serviços incontáveis prestados a nossa Pátria pelos Jesuítas, atribuindo-os a intuitos menos nobres e confessáveis.

Esta voz roufenha se fez ouvir agora, na pessoa do Sr. Victor de Azevedo, que, pelas colunas da “Folha da Manhã”, publicou um artigo a respeito das verdadeiras intenções dos fundadores de São Paulo, que teriam sido mesquinhas e acanhadas. Como se vê, a tarefa do Sr. Victor de Azevedo, sobre ser ingrata, é impatriótica.

Aqueles que conhecem certas particularidades dos primórdios de Piratininga, sabem que, bem antes de São Paulo, fora fundada para além da serra, no planalto, um outro centro de população colonial: Santo André da Borda do Campo, que chegou a ser elevado à categoria de vila. Mais tarde, com a fundação de São Paulo pelos Jesuítas em 1554, estabeleceu-se rivalidade entre ambos os núcleos, rivalidade que terminou pela extinção da vila de Santo André, cuja população foi trasladada para São Paulo. Foi tão radical a extinção de Santo André, que, até hoje, as pesquisas mais acuradas ainda não conseguiram precisar com certeza o lugar onde se situava. A razão de medida tão drástica parece residir no seguinte: a vila de Santo André, fundada sem as bençãos da Igreja, queria permanecer com seu caráter leigo, rejeitando a atividade dos missionários. Seria, assim, uma antecipação em miniatura dos modernos Estados agnósticos e ateus.

Para obviar este inconveniente, os Jesuítas marcharam mais para o oeste, embrenharam-se mais para dentro no sertão, e ali fundaram o Colégio, que foi a célula inicial da grande metrópole paulistana. Ora, insistindo Santo André em seus hábitos antirreligiosos, resultaram daí sérias dificuldades para a catequese do gentio. Resultado: venceu a Religião, extinguindo-se Santo André.

É com isto que o Sr. Victor de Azevedo não se conforma. Queria que vencesse Santo André, porque Santo André representava o espírito anticolonial em sua feição mais interessante: o antijesuitismo. E porque isto não aconteceu, expande o seu mau humor até contra a figura venerável e augusta de José de Anchieta. Muito especialmente porque Anchieta, no seu zelo, trabalhou efetivamente contra a impiedade de Santo André, em benefício da civilização e da catequese.

O Sr. Victor de Azevedo não se contém: “Anchieta, o venerável, o santo, o suavíssimo Anchieta só encontra expressão de forte vivacidade com que referiu-se à ‘detestável maldade’ dos habitantes de Santo André”.

Vê-se que o Sr. Victor de Azevedo desejaria um Anchieta todo meloso e piegas, que permitisse todos os ataques da impiedade. E porque Anchieta se revela um verdadeiro cristão que luta contra os inimigos da Religião, o Sr. Victor de Azevedo se zanga! Deve zangar-se também contra Jesus Cristo, que açoitou os vendilhões do Templo e amaldiçoou, com expressões candentes, os fariseus.


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