Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Educar para Deus

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 27 de setembro de 1942, N. 529, pag. 2

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Começou a ser lançada uma série de livros de propaganda antinazista. O primeiro deles se intitula “Educando para a morte”, e está causando a sua repercussão, pois relata, pormenorizadamente e sem disfarces, o aviltamento em que o nazismo lança a missão divina de propagar a vida, missão que só pode ser desempenhada dentro da família legitimamente organizada. A respeito deste livro, o Sr. Maurício de Medeiros escreve um de seus artigos, manifestando a sua repulsa e o seu escândalo por tão grande degradação, e contrapondo a estas misérias atentatórias da dignidade humana uma vaga e imprecisa “educação” para a vida.

Para dizer a verdade, as coisas hediondas que “Educando para a morte” põe em foco não nos causaram a menor surpresa. De há muito estávamos ao par das concepções nazistas a respeito da família e da propagação da espécie e basta que se conheça alguma coisa do racismo para que não se tenha nenhuma ilusão à cerca da depravação moral que o hitlerismo traz consigo e impõe através da organização estatal mais poderosa que o mundo jamais haja visto.

O racismo é uma preocupação exclusiva pelo “puro sangue” ariano e só vê no homem o valor biológico; daí a nação se transformar num imenso curral, e o povo, num vasto rebanho. Não será difícil imaginar onde vai parar a dignidade da mulher e da família em meio a semelhantes aberrações. Entretanto é preciso reconhecer que isto não é novidade. De fato, o comunismo já vinha pondo em prática idéias muito semelhantes a estas, muito antes do nazismo subir ao poder.

Uma coisa, porém, deve ser reconhecida tanto ao nazismo quanto ao comunismo: a profunda coerência de ambos os regimes. Em verdade, se se admite o materialismo como verdade, se se nega a existência de Deus, a imortalidade da alma, a imutabilidade da lei moral, enfim, a diferença essencial entre o homem e os brutos, reduzindo-lhe as manifestações espirituais a simples fenômenos orgânicos, que outra coisa restará ao homem senão o seu valor biológico? Por que deixar de aplicar ao homem os mesmos princípios que tão bons resultados apresentam, melhorando as raças dos rebanhos?

Quem certamente não é coerente é o Sr. Mauricio de Medeiros que, sendo materialista como é, deveria ter coragem de chegar até as últimas consequências de suas doutrinas e aprovar a política racista do nazismo. Dir-se-á que é contra a dignidade da mulher transformá-la em simples fêmea? Mas teria propósito falar-se na dignidade das éguas ou das vacas? O fato é que, admitido, o materialismo, a dignidade humana passa a ser um mero sentimento ou preconceito, jamais uma convicção sólida, baseada em fundamentos científicos e absolutos.

Na realidade, só o Catolicismo pode elevar e dignificar o homem, pois só o Catolicismo pode garantir ao homem um valor espiritual, inabalável e absoluto. Tudo o que não for expressamente ou Catolicismo, ou Nazismo e Comunismo, não passará de covardia de espíritos desfibrados, que vivem de transações e compromissos, incapazes de chegar às últimas consequências dos princípios que adotarem; espíritos medrosos, que não têm o heroísmo da coerência, custe o que custar.

Portanto, só há um meio de não educar para a morte: é educar para Deus. Porque só os homens profundamente imbuídos do sentido incomparável da alma imortal resgatada pelo Sangue de Jesus Cristo, só os homens penetrados da convicção de sua absoluta subordinação a Deus e à Igreja, só os homens convencidos de que esta vida terrena é uma luta constante contra o mundo, o diabo e a carne, luta que é possível vencer, e que se deve vencer com a graça de Deus, só estes homens poderão trazer a verdadeira paz e uma verdadeira renovação da humanidade.


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