Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Invasão dos bárbaros

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de setembro de 1942, N. 528, pag. 2

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Os cinemas desta Capital estão exibindo o filme de propaganda antinazista “Invasão de Bárbaros”.

O filme narra as peripécias de seis nazistas, tripulantes de um submarino avariado nas costas do Canadá, e que, conseguindo salvar-se, internaram-se terra adentro. Aí, então, começa a odisseia tragicômica dos seis marinheiros hitleristas. No intuito de manter, a despeito das circunstâncias adversas, a linha de audácia e orgulho que devem caracterizar semideuses, na ânsia de evitar ou sobrepor-se às situações de inferioridade, em que a epopeia da conquista mundial pelo “herrenvolk” [povo rei] se poderia facilmente transformar num banal e ridículo caso de polícia, estes seis homens cometem atrocidades incríveis e fanfarronadas imbecis, numa emulação de estupidez e de idiotice. Fazem como colegiais, que partiram em aventura, para descobrir novos mundos e se vêm no risco de serem surpreendidos na travessura, muito prosaicamente, pelos pais.

Têm-se multiplicado, extremamente, nestes últimos tempos, muito especialmente depois de cessada a neutralidade brasileira, em virtude dos selvagens ataques dirigidos contra as Américas, o número de filmes antinazistas, que têm sido exibido entre nós. Evidentemente, é inteiramente digna de louvores a ideia de empregar esta arma tremenda de propaganda que é o cinema, no combate à praga do totalitarismo. Entretanto é necessário que esta arma seja bem empregada, para que possa mobilizar efetivamente a opinião pública contra o nazismo. Se assim não acontecer, em vez de se conseguir um clímax da opinião pública, de maneira a polarizar as atenções e preocupações de todo o povo para com objetivos nítidos e bem estabelecidos, obter-se-ia a desordem das opiniões.

Ora, o filme “Invasão de Bárbaros” apresentando os nazistas apenas como umas crianças selvagens ou uns imbecis sanguinários, mas no fundo uns bobos, falseia a verdadeira visão do perigo nazista, e tende a formar otimismos que já se têm revelado funestos. É preciso que a opinião pública seja orientada violentamente contra o nazismo. Mas é também preciso que a opinião pública não seja iludida quanto a verdadeira realidade do nazismo.

O nazismo não é obra de irresponsáveis nem de delírios paranoicos. O nazismo é um crime consciente e friamente perpetrado. E, para a perpetração deste crime, foram e são empregados todos os recursos da ciência e da cultura, todas as forças da tradição e da história, todas as energias espirituais do homem e da sociedade. E nisto reside todo o imenso perigo e toda a imensa hediondez do nazismo: é um crime totalitário.

É diante desta realidade lúgubre que a humanidade se encontra, e tudo aquilo que afastar os olhos da humanidade desta realidade lúgubre só virá a beneficiar, no fundo, o próprio nazismo.


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