Comovedora despedida de um soldado católico alemão
Legionário, 23 de agosto de 1942, N. 519, pag. 6 |
Plinio Corrêa de Oliveira, Diretor do LEGIONÁRIO |
Transcrevemos na íntegra a carta que um soldado católico da Alemanha, tombado na Sérvia em 1941, endereçou à sua querida mãe, publicada pelo "Catholic Herald", que se responsabilizou por sua autenticidade. “Querida Mamãe. O teu filho já terá deixado de existir, quando Hans te entregar esta carta. Acho-me gravemente ferido em um hospital e sei que minha vida está por algumas horas. Não posso escrever. Tenho o braço direito destroçado, por isso pedi a Hans, que leve pessoalmente minha carta de despedida, mãe querida. Não há perigo de que os “Negros” (Gestapo) a leiam, pois confio em Hans. Sem dúvida recordas, mãe queridíssima, o dia de nossa separação, quando fui mobilizado em Agosto de 1939. Estavas no jardim junto a Liesl, a quem também escrevo. Ambas compreendestes a dureza daquela separação. Não era temor nem covardia. Sabes, mamãe, o meu grande desejo de ser oficial de nosso Exército, como meu pai o foi na guerra passada, e como caiu mortalmente ferido em um contra-ataque em Dadizzele, em 1917. Recordas como nós, os meninos, ardíamos de entusiasmo, como admirávamos as cruzes de ferro, de 1ª. e de 2ª. classe, e outras condecorações ganhas por papai. Sabes também, querida mamãe, porque desisti do meu projeto em seguir a carreira de meu pai. Foi pouco depois da ascensão de Hitler ao poder, quando a juventude hitlerista, as S.S. (tropas de proteção) e os S.A. (tropas de assalto), assaltaram nosso querido “Lar católico”, destruindo tudo, maltratando-nos e acabando por queimar o edifício onde funcionava. No dia seguinte o “Ober-president” declarou que aprovava sem reservas a atitude da juventude hitlerista, dos S.A. e S. S., e que com ela chegava-se a uma nova era. Foi então que prometi: “Jamais serei oficial de um chefe, que constrói seu poder com violências e injustiças”. Todas as semanas, sabes, se cometiam novos ataques contra a Igreja católica, supressões e mais supressões. Nós, que confessávamos com franqueza nossa fé em Cristo, éramos marcados como traidores do país, ao passo que se realizavam esforços violentos para arrancá-Lo de nossos corações. Tomei então uma firme decisão: “Nunca serei oficial do Anticristo”. Há anos que esperava este desastre. Os camisas pardas, trabalharam para provocar outra guerra mundial, com o fim de destruir o Cristianismo em todo o mundo. O ataque à Polônia não foi uma guerra justa, foi um crime que brada ao céu por vingança. Quando te deixei e a Liesl, querida mamãe, prometi que jamais tiraria a vida a um soldado inimigo, e tenho cumprido a minha palavra. Sempre tenho atirado de modo a não ferir o adversário. Mamãe, sabes que o teu filho não é um covarde. Tenho estado sempre nas primeiras filas de todos os ataques. Na frente de Varsóvia nossa 2ª. Companhia estava isolada, nosso coronel temia que estávamos cercados pelos polacos, ofereci-me para atravessar o fogo das metralhadoras dos valentes polacos, com o fim de avisar os companheiros do perigo. Depois da batalha o coronel colocou em meu peito a Cruz de Ferro de segunda classe e eu corei de vergonha. Pareceu-me que minha alma marcou-se com o estigma da vergonha. A Cruz de Ferro, sempre admirada por mim, uma cruz — emblema da vitória de Cristo — e sobre ela a suástica, emblema vergonhoso do Anticristo. Em Dunkerque foi terrível a luta. Nossa ala direita foi rechaçada e o coronel, ferido gravemente, caiu entre as duas linhas, em perigo de morte, durante um contra-ataque britânico. Colando meu fuzil ao ombro, corri ao encontro do inimigo e trouxe o coronel nas costas. Recebi somente um pequeno arranhão e o coronel se salvou. O comandante da divisão me outorgou logo a Cruz de Ferro de 1.ª classe, e uma vez mais, me senti envergonhado, por ter que levar o signo do Anticristo sobreposto à Cruz de Cristo. Nem na Polônia, nem na França matei ou feri pessoa alguma. Desde a queda da França mudamos de posição várias vezes, e finalmente fomos enviados para a Sérvia. Durante nossas viagens, temos visto muito, muitíssimo, as horríveis façanhas dos “Negros” (Gestapo) e as torturas e martírios que sofrem os povos conquistados, e o ódio fanático com que perseguem tudo o que é católico ou cristão. Tudo isto confirmou a minha resolução de não matar os meus adversários. Segundo o tenho entendido, poucas vezes na história do mundo houve uma guerra mais injusta do que esta, matar um adversário nesta guerra seria, para mim, um homicídio, e isto eu não podia fazer. Dentro de algumas horas, mamãe querida, me será permitido dar por consumado meu sacrifício. Poucas vezes em minha vida, tenho me sentido tão feliz. Não me chores demasiado, querida mamãe; sempre me ensinastes que se devia dar a vida por Cristo. Consola a minha pobre Liesl e ajuda com serenidade a cumprir a vontade de Deus. Ampara e ajuda a educar “Petukim” com o mesmo espírito que nos ensinastes, mamãe, queridíssima! Um abraço do teu filho.” |