Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Que mal haverá?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de agosto de 1942, N. 519, pag. 2

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Conforme já noticiamos em outra parte deste jornal, o Papa acaba de proibir a entrada no Vaticano de senhoras e jovens que não usem meias, bem como não estejam vestidas de acordo com a modéstia cristã. É muito significativo que a Santa Sé se tenha visto obrigada a descer a tais minúcias do traje feminino, quais sejam as meias, para ressalvar o decoro da Igreja. A preocupação pela decência católica devia estar tão viva em todos os espíritos, que jamais a administração superior da Igreja se visse na contingência de abandonar, por momentos, a cogitação de problemas mais relevantes, para resolver este ponto. Todos, absolutamente todos os católicos têm a estrita obrigação de possuir uma consciência de tal forma alicerçada nos princípios da Fé, que não se deixem levar, nem impressionar, nem comover por qualquer vento de moda ou de doutrina, que sopram de origens suspeitas.

Que é, entretanto, que corrói as fibras mais nobres e rijas da consciência cristã de muitos católicos, forçando a Santa Sé a intervir numa questão que deveria ser pacífica e inconteste, um verdadeiro lugar comum? É, sem dúvida, o cansaço de resistir à malícia do século e às solicitações do mundo, o cansaço do opróbrio com que o mundo cobre os seguidores de Jesus Cristo, porque o mundo havia de amar o que era seu, mas, porque não somos do mundo, o mundo nos odeia, porque, antes de nós, odiou a Jesus Cristo, nosso Chefe; cansaço que procura pretextos numa pseudo-caridade e numa falsa largueza de vistas; cansaço que costuma produzir terrores nervosos a respeito do perigo do rigorismo e do jansenismo, numa época alagada de laxismo e de presunção; cansaço, enfim, que habitualmente se exprime na fórmula: “que mal haverá nisso?”

“Que mal haverá nisso?” Por aí começam, em geral, as piores capitulações. Evidentemente, por causa disso não se há de afundar num pessimismo negro, que não estaria nem um pouco de acordo com o espírito católico. Mas também não estaria mais de acordo com a doutrina cristã um otimismo infundado, que consiste muitas vezes em confiar e esperar no mundo, quando só devemos confiar e esperar em Deus.

No que se refere à moda feminina, alguma coisa, em que muita gente não veria mal nenhum, foi proibida no território do Vaticano. Resta que o nosso amor pela Santa Sé não se cifre apenas a protestos verbais, mas se manifeste num acatamento e numa imitação exemplares.


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