Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A trama da intriga

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 9 de agosto de 1942, N. 517, pag. 2

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Certo italiano antifascista de Santos veio a público para dizer que as palavras pronunciadas por Pio XII por ocasião de seu jubileu episcopal não eram satisfatórias, eis que o Papa não teria deixado bem clara a sua condenação aos assaltos totalitários, assim como deixou de dar uma adesão explícita e decidida às democracias. Segundo este antifascista, Pio XII agiu de forma a que todos ficassem relativamente satisfeitos e ninguém excessivamente contente, e isto por artes de “um abominável e falso maquiavelismo”. Assim, Pio XII teria evitado tomar atitude entre os contendores, mantendo-se numa neutralidade dúbia e equívoca.

Ora, basta alguém não estar cego para já haver percebido que esta não é a posição da Santa Sé em face da avalanche totalitária. Evidentemente, a situação atual do papado é de uma delicadeza tão extrema, que a prudência mais comezinha desaconselharia lances arriscados e desnecessários, e muito menos fanfarronadas arrogantes, mesmo porque tal não se coadunaria com o decoro da Igreja. Entretanto, quem souber e quiser analisar o sentido dos atos e das palavras oficiais da Santa Sé, não lhes poderá dar mais do que uma interpretação, e neste caso está a alocução de Pio XII. Por outro lado, enganar-se-ia redondamente quem supusesse que, por ser radicalmente contrário aos totalitarismos, iria o Papa desandar em demagogias. A Igreja tem uma linha de conduta pré-fixada, da qual não se desviará no menor ponto por causa de contingências do momento.

Porém, não é isto o que mais interessa. O que se deve notar nos comentários daquele antifascista é uma sutil manobra em que se procura envolver a Igreja. Nota-se, em certos arraiais suspeitos de adversários do “eixo”, a preocupação de comprometer a Igreja com as ideologias totalitárias, apresentando o catolicismo, e principalmente a Santa Sé, como simpatizante oculto do nazismo, e, por aí, uma espécie perigosíssima de 5.ª coluna e — coincidência curiosa — na divulgação desta infame calúnia são coadjuvados pela propaganda hitlerista, que vive a insinuar pelo mundo à fora que o Papa não seria assim tão adversário do nazismo. Nossos leitores, certamente já tiveram oportunidade de verificar este fato. O que se procura com isto, vê-se logo, é envenenar uma eventual vitória das democracias, dando-lhe uma feição esquerdista e anticlerical. Incumbe-nos, por isso, reagir por todos os meios, a fim de desfazer a calúnia.

É preciso reconhecer que aqueles católicos desorientados, felizmente poucos, que nutrem simpatias para com o nazismo, favorecem esta manobra, e fornecem ótimos pretextos aos nossos inimigos para combater a Igreja. Por isso mesmo, devemos repudiar o nazismo com maior ardor ainda.


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