Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Pela família

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de julho de 1942, N. 514, pag. 2

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Em boa hora ocorreu a lembrança de uma nova edição, efetuada pelas Oficinas Gráficas da “Ave Maria”, do opúsculo “Pela Famíia”, que o saudoso e inesquecível D. Duarte Leopoldo e Silva escrevera, quando ainda pároco de Santa Cecília. Uma das qualidades, entre inúmeras outras, que se notaram no ilustre arcebispo, sem nenhum favor um dos mais belos ornamentos para não dizer uma das mais legítimas glórias do Clero nacional, foi o espírito de previsão, aquela capacidade de penetrar tão a fundo no âmago dos problemas que, transcendendo das contingências momentâneas com que se apresentava, sabia apresentar soluções definitivas, que não se adaptavam apenas às circunstâncias imediatas, mas se projetavam, a perder de vista, para o futuro. Isto se percebe, à primeira vista, no opúsculo “Pela Família”.

Escrito em fins do século passado, continua cheio de atualidade, apesar da profunda e inegável mudança de condições políticas, sociais e econômicas ocorrida nos últimos cinquenta anos, e pareceria que foi composto especialmente para resolver questões de nossos dias. Neste sentido, seria muito interessante a comparação entre esse opúsculo e as recentes pastorais coletivas do Episcopado Paulista, nos pontos em que estas tratam da crise familiar.

Hoje em dia, a família acha-se entre dois fogos, que conjugam admiravelmente a sua atividade destruidora, a ponto de muitas vezes se confundirem num só pandemônio. De um lado, ela é atacada por argumentos jurídico-sentimentais; a pretexto de compaixão, procura-se estabelecer, a todo transe, uma interpretação cerebrina e capciosa de nossas leis, que viria brechar o princípio da indissolubilidade do vínculo matrimonial. Por outro lado, a imoralidade mais grosseira, uma ânsia incontida de prazeres imundos campeia livremente, fazendo literalmente apodrecer as classes extremas da sociedade, a mais alta e a mais baixa, lançando-as num abismo de corrupção apenas concebível tal como a História só nos conta ter havido nas vésperas das grandes catástrofes.

Contra essas forças demolidoras já se levantava D. Duarte, ainda no século passado; não podemos transcrever aqui todas as passagens em que a sua voz de pastor se levantava para fulminar, do alto, os erros funestos que nos assoberbam: isto importaria em transcrever quase todo opúsculo, cuja leitura recomendamos a todos os verdadeiros católicos. Queremos, contudo, consignar esta frase: “A solução do problema da felicidade não se assenta na ausência do sacrifício”.

A todos aqueles que gemem, nesta hora obscura e indecisa, em que as verdades se calam, os caracteres se desfibram, as consciências mais bem formadas se cansam de resistir e procuram acomodações para reconciliar-se com o presente século mau, a leitura de “Pela Família” será um reconforto, uma consolação, um estímulo de coragem e desassombro.


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