Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Música

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de junho de 1942, N. 509, pag. 2

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O sr. Caldeira Filho, que se vai tornando conhecido em nossos meios musicais, apresentou ao nosso público, ainda recentemente, as “Noções de História da Música” tradução ampliada e comentada da obra de Domingos Alaleona.

O título “Noções de História da Música” poderá fazer com que muitos pensem que o livro seja apenas um abreviado da evolução musical. Entretanto, além da parte propriamente histórica, há extensas considerações relativas à teoria geral da música. Estas explanações são de um alto interesse, principalmente para aqueles que, embora afeiçoados a esta arte, ainda não tiveram oportunidade de penetrar nos escrínios da ciência musical, geralmente não franqueada aos leigos. Ora, o autor se mostra, neste sentido, um verdadeiro divulgador, senão um esplêndido iniciador. Sem descer a certas minúcias técnicas, que perturbariam a boa compreensão dos não iniciados, não fica entretanto no terreno das meras generalidades, que nada revelam dos segredos essenciais do assunto. Além disso, o material histórico apresentado é bastante interessante, disposto com método, de molde a familiarizar os leitores com as características das principais escolas e com a personalidade dos mestres mais notáveis. Deve-se salientar que o sr. Caldeira Filho não se limitou a traduzir a obra de Alaleona, mas acrescentou ao texto original vários parágrafos seus, que a completou sob muitos aspectos.

Pena é que Domingos Alaleona tivesse manifestado em sua obra suas tendências antirreligiosas, e, principalmente, anticatólicas. O sr. Caldeira Filho procurou obviar este inconveniente, apresentando em bem cuidada advertência, que abre o livro, uma refutação das teses mais agudamente anticatólicas de Alaleona. Achamos que o tradutor, que revelou apreciável perícia nesta sua argumentação, deveria ter estendido mais a sua refutação tratando, por exemplo, do evolucionismo materialista que Alaleona coloca na base da história da música. Além disso, é preciso ter-se em vista que a maior parte do público tem o mau hábito de não ler prefácios, introduções, advertências etc. com que se iniciam os livros.

Tudo isto considerado, achamos que o sr. Caldeira Filho, com o valor inegável que revelou nas muitas partes de sua autoria que ajuntou à tradução, tinha capacidade para ter escrito um trabalho original, dispensando-se de apresentar a nosso público um autor que, se do ponto de vista estritamente musical é assaz apreciável, está, contudo, imbuído de preconceitos anti-eclesiásticos.

Sempre que não haja necessidade, a prudência ordena que se evite a apresentação do erro, ainda quando acompanhado de sólida refutação. O espírito humano é tão inclinado ao erro...


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