Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Cristianismo

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de abril de 1942, N. 501, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Hilaire Belloc, o conhecido historiador inglês, ao tratar do Cristianismo numa de suas obras, tem uma observação singularmente penetrante, e também cheia de “humour”: “Para a juventude moderna, especialmente nas sociedades que perderam a cultura católica, a palavra ‘Cristianismo’ significa, vagamente, ‘aquilo que é comum às várias seitas, opiniões e maneiras, herdadas em forma diluída da Reforma’. Na Inglaterra, hoje em dia, por exemplo, ‘Cristianismo’ significa um sentimento geral de bondade... particularmente para com os animais”.

Esta observação de Hilaire Belloc evidentemente não se aplica apenas à Inglaterra, mas, com variantes acidentais, de acordo com as idiossincrasias, temperamentos e tradições, a extensas porções da humanidade. De fato, a palavra “Cristianismo”, que deveria merecer tanto respeito e tanta veneração, vem sendo objeto das mais disparatadas escamoteações, que, muito frequentemente, demasiado frequentemente, são feitas com intuitos menos confessáveis. Para uns, “Cristianismo” é uma espécie de superexcitação romântica, uma fuga da realidade concreta e crua para mundos imaginários e subjetivos. Para outros, “Cristianismo” não passa de um filantropismo generalizado, uma geral complacência para com as misérias da humanidade, muito especialmente para com os vícios e os crimes. Para outros, enfim, “Cristianismo” significaria uma forma cósmica, como que surgida na História por um determinismo evolucionista, até manifestar todas as suas virtualidades. Para todos estes, porém, “Cristianismo” seria tudo, menos o que deve ser, e é na realidade.

O fenômeno é estranho. Ninguém se lembraria, por exemplo, de chamar a um livro, chapéu; a uma cadeira, guarda-chuva; ou a cabeça, batata. Mas quase ninguém acha, ou não quer achar, que a palavra “Cristianismo” tem um significado preciso, e não pode ser aplicada a qualquer coisa, máxime a coisas nitidamente anticristãs.

Ainda agora o sr. Edmundo Rossi publicou, pelas colunas do “Estado” [de S. Paulo], uma apreciação do livro que o sr. Afonso Schmidt escreveu a respeito de uma colônia anarquista, que se estabeleceu no Brasil, no século passado, para tentar pôr em prática as ímpias teorias imaginadas por um libertarismo delirante. Pois para o sr. Edmundo Rossi esta colônia anarquista constituiu uma experiência profundamente cristã, que tentou aplicar os verdadeiros princípios de Cristo (?), e o sr. Afonso Schmidt, que escreveu, é cristão e panteísta (sic). Afinal, tudo isto não passa de uma grosseira mistificação. E, a continuar esta confusão de palavras e conceitos, até o sr. Edmundo Rossi poderia ser chamado de escritor honesto.


Bookmark and Share