Plinio Corrêa de Oliveira
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O mártir
Legionário, 12 de abril de 1942, N. 500, pag. 2 |
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Começou a ser exibido nos cinemas de São Paulo um filme de propaganda antinazista, intitulado “O Mártir”, na versão portuguesa, sendo seu título original “Pastor Hall”. Neste filme são apresentadas cenas verídicas da perseguição antirreligiosa do 3.o Reich, pois que o enredo é declarado sobre o caso sobejamente conhecido do pastor Niemoeller. De um modo geral, tudo o que combate o nazismo, na medida em que o combate, e enquanto verdadeiramente o combate, é bom. Por isso o filme em questão, considerado exclusivamente quanto à sua finalidade anti-hitlerista, é bom. Entretanto, o mesmo não se pode dizer quanto aos meios adotados para atingir esta finalidade. De fato, ao focalizar a luta, que o nazismo vem desenvolvendo desde a sua ascensão ao poder, para aniquilar as convicções e os sentimentos religiosos do povo alemão, “O Mártir” incide na parcialidade de salientar, com a maior evidência, os obstáculos opostos pelo protestantismo à paganização da Alemanha, dando aos expectadores a falsa ideia de que a principal reação proveio dos arraiais protestantes. Ora, nada pode haver de mais contrário à realidade dos fatos. A verdade é que, se excetuarmos a reação de Niemoeller — que, por sinal, acabou por converter-se ao Catolicismo — o nazismo só esbarrou, a bem dizer, num obstáculo ponderável, e que será um obstáculo irredutível, definitivo e inamovível: a Igreja Católica. A oposição protestante jamais impressionou seriamente os chefes hitleristas, e cedeu logo aos primeiros embates. Aliás, está na própria essência do protestantismo o ser fraco perante os senhores temporais; e é mesmo muito natural e muito justo que os que rejeitaram a soberania pacífica dos Papas, curvem-se trêmulos ante a arrogância dos Césares. Prova-o, ainda agora, a fraquíssima atitude da igreja norueguesa, que, para se opor à soberba dos quislings, não soube encontrar outro meio senão uma passiva e inócua demissão coletiva, quando é obrigação comezinha do pastor estar à testa de seu rebanho, custe o que custar. E se se tratasse apenas de uma resistência fraca e inoperante! Mas há muito pior, porque há uma porção muito considerável do protestantismo que aderiu francamente, delirantemente, freneticamente ao führer. Pois a igreja evangélica alemã não era dócil instrumento da 5.a coluna no Sul do Brasil, conforme apurou o inquérito oficial? E ainda não é o pior. A “Reformierte Kirchenzeitung” afirmou o seguinte, transcrito por “La Prensa” de Buenos Aires, de 10-IV-37: “A palavra de Hitler é a lei de Deus e, enquanto tal, possui autoridade divina, que se expressa por forma de decretos-leis. Como o Führer é o único nacional-socialista cem por cento, só ele representa a lei e todos os demais podem considerar-se culpados perante a lei divina. Este é o ponto de partida para definir o pecado em sentido religioso.” E o pastor Hermann Gruner ainda foi mais longe, quando afirmou: “Por intermédio de Hitler, Cristo, Deus, o Messias e Salvador, tornou-se todo-poderoso. Hitler é o caminho do espírito e da vontade de Deus”. Como se vê, desceram até à blasfêmia, em seu agachamento diante do nazismo. |