Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 22 de fevereiro de 1942, N. 493, pag. 2 |
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Os recentes dados da estatística agrícola e zootécnica revelam uma decisiva acentuação do processo de formação de pequenas propriedades bem como a diminuição acelerada das grandes e médias propriedades. Se é verdade que há muitos aspectos louváveis e dignos de aplausos neste incremento da pequena propriedade entre nós, contudo existem certas circunstâncias que põem algumas sombras neste quadro tão significativo. De um modo geral, cremos haver um certo exagero na maneira como se estão formando, atualmente, as propriedades agrícolas de pequena extensão territorial, e, assim, está havendo algo de prejudicial aos indivíduos e à coletividade, como aliás em tudo o que é exagerado. Antes de mais nada, é preciso não perder de vista que o conceito de pequena propriedade, bem como o de grande propriedade, é essencialmente relativo. De fato, tudo depende, neste assunto, da maior ou menor concentração demográfica em relação à área cultivada. Assim, por exemplo, que seria para nós uma propriedade de proporções normais, e quiçá modestas, seria na Europa um verdadeiro latifúndio. Portanto, qualquer comparação que se quisesse fazer entre a nossa situação e a europeia, por exemplo, pecaria pela base. Isto posto, é preciso considerar que, quando Leão XIII tão sabiamente se mostrava favorável à pequena propriedade, não tinha outro objetivo em vista senão colocar a posse da terra ao alcance de todos, mesmo das classes menos favorecidas. Era um sagaz remédio que o grande pontífice opunha às doutrinas dissolventes, negadoras da propriedade privada. Mas os socialistas acharam meio de contrafazer tão poderoso remédio. Se Leão XIII queria que houvesse a pequena propriedade, os socialistas passaram a dizer que só devia haver a pequena propriedade. E neste exclusivismo está todo o veneno, pois tende a transformar as populações rurais numa poeira de pequenos sitiantes, sem nenhuma influência social ou política, e, por isso, facilmente assenhorável pelo Estado, através dos sindicatos de direito público. Aqui entre nós, concretamente, o desenvolvimento da pequena propriedade, em geral, nestes últimos anos, tem sido um resultado da decadência agrícola. As pequenas propriedades são, muitas vezes, os destroços de fazendas outrora prósperas, onde se desenvolvia uma bem organizada exploração agrícola. Paralelamente a este fato, assistimos a um desmedido desenvolvimento da grande concentração industrial, nas cidades mais importantes. Daí resulta um perigoso desequilíbrio entre o nível da vida nos centros urbanos e nos distritos rurais: é evidente que o standard de vida tende a baixar nestes últimos e a elevar-se nos primeiros. Quanto mais que os benefícios governamentais, por via de regra, só atingem as cidades. Além disso, uma população que venha a ser constituída exclusivamente de pequenos sitiantes, não poderá possuir uma elite. E disto resulta que a sociedade agrícola viria a ser fácil presa do capitalismo e do estatismo. Os males daí decorrentes não se poderiam encarecer devidamente. Haveria um aumento da corrente emigratória das zonas rurais para as cidades, que se tornariam grandes centros, com o aparecimento inevitável dos problemas sociais característicos. Mas, principalmente nós católicos não nos devemos esquecer de que os grandes ajuntamentos urbanos são prejudiciais à grande família, e, pelo contrário, são propícios à corrupção dos costumes. |