Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 18 de janeiro de 1942, N. 488, pag. 2 |
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À primeira vista, nacionalismo e patriotismo podem parecer sinônimos, mas na realidade são dois polos, dois extremos, duas idéias irreconciliavelmente antagônicas. O patriotismo é a expressão de um sentimento de fidelidade para com o povo a que se pertence e, especialmente, para com a autoridade tradicional no povo; é uma virtude chegada à piedade filial, que faz com que os filhos amem, honrem e sirvam a seus pais. Aliás, a palavra “pátria” provem, de “pater”, que quer dizer “pai”. Assim considerando, a Nação se transforma numa família em ponto grande, e o amor à Nação, ou patriotismo, se torna muito semelhante ao amor que cada um tem pelos membros de sua família. E, da mesma forma que o amor de cada um por sua família não é necessariamente causa de discórdias com outras famílias, antes pelo contrário o amor familiar é um sentimento pacífico; igualmente o patriotismo não é causa de guerras, mas gera a cordialidade entre os povos. Mesmo porque o patriotismo é uma virtude tipicamente católica, pois só apareceu e desenvolveu-se pela influência da Igreja. Pelo contrário, o nacionalismo é o egoísmo coletivo, a auto-adoração da nação, a arrogância e a brutalidade mais estúpida erigidas a concepção de vida. Se o patriotismo é de origem católica, o nacionalismo é radicalmente pagão. Se o patriotismo produz a livre convivência, o nacionalismo produz a escravidão. Se o patriotismo é próprio à natureza humana, o nacionalismo é visceralmente inumano. O patriotismo é fruto da caridade cristã e tomou consciência de si mesmo nas Cruzadas. O nacionalismo é invenção recente da conspiração maçônica dos dois últimos séculos, e tem como fonte remota a pseudo-reforma protestante, que iniciou a desagregação da unidade dos povos cristãos. A este propósito, o sr. Cristóvão Dantas, publicou em artigo seu o resumo das ideias do publicista britânico Reinhold Aris. Este escritor, a par de conceitos acertados, emite uma série de ideais, que falseiam por completo a realidade espiritual e histórica. Para ele, o nacionalismo foi doença do século XIX, que está comprometendo gravemente a civilização em nosso século; para ele ainda, o nacionalismo se origina da revolta de Lutero. E, até aí, tudo certo. Mas, o que segue não é verdadeiro. Reinhold Aris afirma que Lutero foi apenas a expressão e o instrumento da ruptura profunda, já pré-existente no seio da civilização cristã; o que equivale a dizer, embora não o tenha dito, que a Igreja já havia fracassado, tendo sido Lutero apenas um proclamador deste fracasso latente. Além disso, o mesmo publicista apresenta como solução para o mal do nacionalismo não o restabelecimento da unidade católica que ele ensina impraticável, mas um certo internacionalismo, com fundamento estrutural na teoria do Superestado, que reúne em seu bojo vários Estados. Tudo isto é errado e perigoso. Em primeiro lugar, não é verdade que Lutero tenha sido apenas a expressão patente de um estado de coisas latente. Lutero é o obreiro de um trabalho, que se processava desde há dois séculos, a partir da tenebrosa Academia Romana, de Huss, Wiclef, de Marsílio de Paula, de Occam etc... Foram estes os que abriram o caminho, e Lutero prosseguiu nele, assentando contra a Cristandade os golpes mais violentos. O que houve, portanto, não foi um desfalecimento interno do espírito da Igreja, mas um combate exterior, prosseguido, sistematicamente através dos tempos, E, se ainda hoje a Igreja não consegue reunir todos os povos numa mesma Cristandade, não é que lhe falte a vitalidade, pois Ela continua a ter a mesma vitalidade com que moldou a Idade Média, mas é porque o mesmo combate contra Ela ainda continua, com maior violência. Combate, entretanto, que Ela vencerá certamente. E que pensar do Superestado, como remédio ao nacionalismo? O melhor que se poderia dizer desse Superestado é que seria um corpo sem alma, sem consistência, e fadado a não subsistir. |