Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Após guerra

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de janeiro de 1942, N. 487, pag. 2

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Apesar de não haver um vislumbre, sequer, do próximo termo da atual guerra, entretanto são já muito numerosas as previsões sobre a situação do mundo que sobrevirá à paz. É curioso notar que até existem planos completos para a elaboração da futura fisionomia da humanidade. De um modo geral, há um ponto comum em todos estes planos e previsões: todos estão de acordo e aí se incluem gregos e troianos, em que o mundo futuro, de após guerra, não deverá ser uma simples restauração do mundo que agora agoniza, mas algo diferente e novo.

Neste sentido, a “Folha da Manhã” publicou um artigo do economista inglês Hollowood em que se defende a ideia de que a economia de guerra ora adotada na Grã-Bretanha deve persistir, “mutatis mutandis”, mas conservada a estrutura geral, mesmo depois de cessado o conflito. E este economista justifica a sua tese com exemplos tirados da padronização das utilidades do racionamento alimentar e do controle governamental das indústrias. Por causa das contingências da guerra, que exige de todo o povo um esforço contínuo e concentrado sobre um mesmo objetivo, torna-se necessário evitar tudo que disperse ou distraia, no mínimo que seja, a unidade deste esforço. A Inglaterra está numa situação em que precisa tirar o maior partido possível de todos os seus recursos, evitando cuidadosamente qualquer espécie de desperdício. Por isto, os objetos necessários à vida são fabricados apenas num certo número limitado de modelos oficiais, para que sejam produzidos mais facilmente, mais abundantemente, e mais baratamente; e é nisto que consiste a padronização. Da mesma forma, os alimentos são distribuídos em qualidades e proporções tendentes a conseguir o maior valor nutritivo pela menor quantidade de gêneros. E, acima de tudo, o controle das indústrias faz com que o Governo coordene e intensifique ao extremo a produção de material bélico.

Ora, o economista Hollowood quer que tudo isto, e outras coisas semelhantes, permaneçam definitivamente, institucionalmente, uma vez sobrevinda a paz, não mais evidentemente para os fins da guerra, mas para promover a prosperidade coletiva. Entretanto, é preciso não perder de vista que semelhante organização econômica implica necessariamente numa política totalitária, numa completa absorção dos indivíduos pelo Estado. E pergunta-se: que vantagem haverá no prosseguimento da guerra? Totalitarismo por totalitarismo, para que continuar o derramamento de sangue? - É verdade que a Inglaterra se viu forçada a adotar uma organização bastante totalitária. Mas se trata de uma medida de emergência, provisória, que se justifica amplamente pela situação anormal da guerra, não se justifica na situação normal da paz.

Exatamente, um dos perigos que o Governo deve evitar é que pelo prolongamento indefinido da guerra, o povo inglês se vá habituando gradualmente, por uma sujeição continuada, que só se tornou possível em virtude de razões patrióticas, ao regime totalitário. Portanto, a proposta do economista Hollowood, e outras semelhantes, que têm aparecido, são sumamente infelizes, porquanto tendem a tirar todo o significado à presente guerra, e a transformá-la numa estupidez sem nome.


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