Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Farisaísmo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 4 de janeiro de 1942, N. 486, pag. 2

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O sr. Maurício de Medeiros acabou de perder as últimas aparências de senso moral. Se até agora os seus sistemáticos ataques à família e aos bons costumes caracterizavam-no como elemento dissolvente e corruptor, a sua última tirada contra a santidade do matrimônio excedeu os limites das tolerâncias mais complacentes, e ofendeu grosseira e miseravelmente a todos os que sabem sacrificar-se no cumprimento dos deveres que aceitaram com o estado conjugal.

Para o sr. Maurício de Medeiros, os casais irregulares que se formam sobre as ruínas de um lar legítimo “merecem tanto da sociedade como os casados felizes, e certamente muito mais respeito e estima do que os casados só na aparência, mas praticamente divorciados no sentimento e em tudo”. É incrível que um espírito humano possa descer tanto, possa abismar-se num desregramento tão repugnante, a ponto de gerar uma semelhante monstruosidade. Poderia o sr. Maurício de Medeiros dizer por que um casal ilegítimo merece tanto ou mais respeito do que os casais formados de pessoas que, muitas vezes à custa dos maiores sacrifícios, não querem desprezar obrigações gravíssimas? Então o desprezar deveres para fazer o que apraz se transformou em título de benemerência? Neste caso, os criminosos, aqueles que saltam todas as barreiras para satisfazer os próprios desejos, seriam beneméritos.

É inútil que estejamos a insistir, pois o assunto só não é evidente para quem seja igual ao sr. Maurício de Medeiros. O que se deve ainda assinalar é a hipocrisia profunda desta gente.

Que o sr. Maurício de Medeiros e a gente do mesmo naipe sejam contrários à integridade da família, é deplorável. Mas que procurem defender seu ponto de vista em nome da Moral, é má fé refinada, porque esta gente não acredita na Moral e ridiculariza os que falam em nome da Moral como arautos de uma velharia insubsistente, ou vítimas apoucadas de preconceitos estúpidos. Como tem, pois, o sr. Maurício de Medeiros a suprema imprudência de afirmar, como afirmou, que é contra a Moral a existência de casais que se mantêm pelo sacrifício recíproco dos cônjuges, que sabem sobrepujar às conveniências pessoais o cumprimento do dever? Assim valesse tanto o sr. Maurício de Medeiros que tivesse o direito de beijar os pés a estas pessoas.

Mas a hipocrisia ainda não esgotou todos os recursos. A raça dos materialistas, a que pertence o sr. Maurício de Medeiros, não admite, e não poderia logicamente admitir outra origem aos efeitos humanos, a não ser o instinto, o mero impulso da animalidade. Pois bem, o sr. Maurício de Medeiros se insurge contra os que afirmam, no que se refere aos casais adulterinos, ser “impossível a existência de uma afeição real e sincera, da qual se exclui a parte exclusivamente sensual ou reprodutora”. Já sabemos, toda a maranha está neste “exclusivamente”. Mas se fosse questão de casais legítimos, em vez de adulterinos, o sr. Maurício de Medeiros teria tido a mesma habilidade!


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