Um dos trechos que certamente merecem atenção na
última Pastoral se refere às rádio emissoras. Nosso Episcopado tem timbrado em
abordar exclusivamente temas de uma importância atual e relevante. Assim, não
poderia deixar de voltar as suas vistas para a rádio difusão, cuja ação, de um
e outro ponto de vista, supera a todos os demais. Proclama-o a Pastoral em
termos que, frisando fortemente o extraordinário alcance, para o bem ou para o
mal, da atuação desenvolvidas pelas rádio emissoras, deixa transparecer
claramente o fervor de entusiasmo que a todos os assuntos radiofônicos, a todos
os progressos da radiofonia e implicitamente a todos os que colaboram para o
desenvolvimento do rádio vota o atual Arcebispo de São Paulo.
Vale a pena ler os primeiros períodos pela Pastoral
consagrados à rádio difusão: “Invento dos mais recentes trouxe a rádio aos
costumes dos povos, modificações tão rápidas que longos anos de vida normal não
lograria. Assenhoreou-se dos ares ou mais propriamente das ondas hertzianas.
Moralizado, concorreria para efetivar a mais bela obra de harmonia universal,
difundindo a verdade, exortando os povos à virtude, elevando o nível cultural
das populações e pacificando os espíritos.”
Que valor preciso deve atribuir-se ao modo
condicional em que se encontra o verbo “concorreria”? Deve-se por aí entender
que nosso Episcopado sustenta não existirem estações de rádio moralizadas? De
nenhum modo afirmando-o, lavraria o primeiro dos signatários da Pastoral, que é
o próprio Metropolita, o decreto de condenação a
Rádio Excelsior, emissora a cujo testa se encontra um
ilustre Sacerdote desta Arquidiocese, e que goza de toda.... [problema
tipográfico] tal interpretação, da leitura do trecho citado só se pode inferir
que sua redação obedece ao intuito de, não louvando e mencionando diretamente
certas organizações dignas de encomio, cortar também de lançar uma pesada
censura às que disto fossem merecedoras. Daí esse gesto verdadeiramente fidalgo
e cavalheiresco de nossos Bispos de omitir na lista dos louvores a própria
emissora católica, certamente de um precioso fator de progresso, e ao mesmo
tempo esquivasse de lançar um estigma direto contra as emissoras acatólicas ou anti-católicas.
Dificilmente um tão grande empenho em não confundir nem ferir a quem quer que
seja poderia encontrar mais nobre e discreta expressão. A mesma preocupação se
nota na redação desta frase: “sem embargo, não é que ouvimos em alguns
programas de certas emissoras”. Seria possível empregar maior cuidado? “Alguns”
programas, não quer dizer todos os programas. “Certas” emissoras não quer dizer
todas nem quase todas elas. É isto tão óbvio que qualquer pessoa de espírito
sereno o reconhecerá. Mas no intuito extremo de ressalvar o quanto possível a
situação de alguns diretores de rádio emissoras, ainda acentua a Pastoral que
se há abusos a registrar, se deve isto ao fato de “talvez premidas pela
impossibilidade de tudo examinar”.
Confiarem
muitos delas demasiadamente em funcionários sem escrúpulos. Assim, ainda mesmo
quando aponta os desvarios, o Episcopado ainda menciona pormenorizadamente as
atenuantes. Ao pé da letra chama-se isto amar os que erram, ainda mesmo que se
caustique o erro.
* * *
E poderiam estes erros deixar de ser condenados?
Está na consciência pública a devastação que a todas as horas de todos os dias
certas rádio emissoras praticam fazendo revezar umas com as outras os assaltos
que desferem contra a fé e a moral. Veiculadas pelas ondas hertezianas,
as heresias e os fermentos de concupiscência atravessam distâncias até aqui
invencíveis, transpõem muralhas cujos batentes jamais se haviam aberto ante a
investida dos princípios de destruição, penetram nas cidadelas de lares até
aqui inexpugnavelmente fiéis a Jesus Cristo e corrompem simultaneamente, com a
chacota escabrosa e fácil, a canção lasciva ou a doutrinação subversiva, tanto
os senhores dos mais opulentos palácios quanto os habitantes dos mais
miseráveis cortiços. Ridicularizam-se criminosamente as mães de numerosa prole,
a Igreja não estaria ao lado delas a fim de as amparar! Enxovalha-se o vínculo
sagrado do Matrimônio e o Episcopado não se deveria erguer em liça, contra esta
ignomínia! Vilipendia-se a pureza, ataca-se a Fé, e os Bispos deveriam
continuar calados! Quem pode não compreender que esperar deles tão reprovável
silêncio seria o mesmo que os supor capaz de violar seus mais santos juramentos
e seus mais altos deveres?
* * *
Há solidariedades que são
nobres. São as que tendem a defender o direito, a verdade e o bem.
Assim, só uma atitude merece apoio. É a que visa
congregar em torno do apelo paternal e afetuoso de nossos Bispos a boa vontade,
a energia e o prestigio de todos os que trabalhando na rádio emissora lamentam
sinceramente estes males, e já trabalham para os limitar.