Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Uma confissão

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de dezembro de 1941, N. 482, pag. 4

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A propósito da exposição de desenhos das crianças inglesas, que ora se realiza nesta Capital, o sr. Lasar Segall, veterano modernista dos tempos priscos em que era “bem” acreditar na arte moderna, escreveu um artigo para o “Estado”, que, se não valer por outros títulos, valerá pelo menos como uma confissão.

O sr. Segall abre seu artigo, verificando este fato verdadeiramente desconcertante: o mesmo público, que costuma admirar e compreender as obras de arte de outras épocas não compreende e não admira as obras de arte moderna. Verdadeiramente, o sr. Segall descobriu a pólvora. Mas, às vezes, é bom que haja quem descubra novamente a pólvora. Graças a isto, obtém-se agora esse testemunho insuspeito e irrefragável: apesar de uma propaganda de quase dois decênios aqui em São Paulo, a arte moderna fracassou entre nós, como alhures; quem o afirma é um de seus propagandistas. Aliás, o fracasso é retumbante. Jamais os objetos antigos foram mais procurados do que hoje, e os antiquários, que se espalham por todos os cantos da cidade, vendem as suas peças a peso de ouro. Há uma espécie de cansaço da vacuidade e da estupidez das formas modernas e os espíritos se voltam para o passado, em busca da satisfação de suas aspirações estéticas.

Mas o sr. Segall não se conforma. Para a relutância do público em relação às idiotices que lhe impingem como arte, o sr. Segall só vê um remédio: deformar o público. Pois para o sr. Segall, a causa do desprestígio da arte moderna reside no ensino artístico que é ministrado nas escolas, que habitua os alunos a certas regras e proporções, em vez de os deixar manifestar livres e espontaneamente o temperamento artístico. Isto em outras palavras quer dizer: dever-se-ia deixar que os alunos fizessem os garranchos e os borrões que entendessem, e por aí expandissem e derramassem a sua personalidade, sem cultivá-la e aperfeiçoá-la por um método progressivo de “tenue” [apresentação] espiritual; quando o nível da mentalidade popular se tivesse igualado ao do homem das cavernas, a arte moderna seria compreendida. Estamos de acordo.

Apenas por um princípio de coerência, este processo educativo não deveria ser aplicado só à pintura e escultura, mas também a outras artes, por exemplo à literatura. Nada de gramática. Os alunos que vão falando como e o que quiserem. Nem Dante teria uma linguagem mais bela. Nada de aprender a ler e escrever. Cada aluno que vá criando espontaneamente a sua escrita, adaptada à originalidade de suas idéias, sem fórmulas preconcebidas.

Seria impossível conceber um método mais perfeito de embrutecimento humano. O sr. Segall deve adotá-lo...


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