Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 23 de novembro de 1941, N. 480, pag. 2 |
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Vivemos numa terra maravilhosa. Temos lavradores que não sabem plantar, administradores que não sabem administrar, cozinheiras que não sabem cozinhar, operários que não sabem trabalhar, literatos que não sabem escrever, etc.; e o que é mais, ninguém, ou quase ninguém percebeu ainda tal singularidade, e parece que tudo vai bem, e nem poderia ser de outra forma. No entanto, um dos problemas sérios e graves da nacionalidade é o da formação profissional. Há, é verdade, outros problemas muito mais graves e profundos, que condicionam o que acabamos de expor. Assim, em primeiro lugar, o problema espiritual, cuja solução dará ao povo brasileiro a ponderação indispensável e as energias morais para as reformas sérias e definitivas. Contudo, bastará um momento de reflexão para se verificar que, no dia em que os profissionais conhecerem devidamente o seu ofício, teremos dado um destes passos fundamentais, que marcam uma época. Para resolver um aspecto desse problema, a saber, o trabalho agrícola, a “Folha da Manhã” apresentou e defendeu um plano que, de tão maravilhoso, chega a ser mirabolante. O plano é o seguinte: o Estado fundaria um sem número de escolas agrícolas, disseminadas pelo interior do Estado. Estas escolas recolheriam 60% de nossa população masculina em idade escolar, que aí viveria em regime de internato, e seria submetida a um tratamento especial, desbastação e beneficiamento físico e intelectual, de maneira que a matéria prima xucra e ingrata retirada da coletividade, seria devolvida ao convívio social dois anos depois, como estas manufaturas de luxo, que se vendem embrulhadas em celofane. A ideia é interessante, mas em suas linhas mestras não é nova, pois é a repetição do que se faz na Rússia comunista, e em muitas das organizações da “Hitlerjugend” [Juventude Hitlerista]. Encontra-se a mesma idéia inspiradora, que aplica ao homem a técnica agropecuária. Aliás, este projeto de organizar turmas de trabalhadores formados pelo Estado, sob a inspiração do Estado, movimentados pelo Estado, colocados pelo Estado, para o benefício do Estado, tem estranhas relações com as turmas internacionais de trabalhadores, que o nazismo arrebanha nos países conquistados, para empregar em serviços forçados em qualquer parte, ainda que seja muito distante dos países de origem dos operários. E, como o Estado não é uma simples abstração, mas se apresenta palpavelmente como um conjunto de funcionários mais ou menos graduados, tudo isto traz ao espírito certas reminiscências, certas impressões, certos pressentimentos... Por acaso não será a restauração da escravatura? |