Plinio Corrêa de Oliveira

 

O Congresso eucarístico da

Diocese de Sorocaba

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de outubro de 1941, N. 475

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Não é preciso ser profeta para predizer o êxito invulgar do Congresso Eucarístico Diocesano de Sorocaba. O brilho e a piedade de um Congresso decorrem de uma preparação próxima e de outra remota. Ambas, em Sorocaba, de tal maneira se conjugaram, que o sucesso do grande certame eucarístico se pode prever com uma segurança absoluta.

Dirigida pelo espírito criterioso e sereno de seu piedosíssimo Bispo, a Diocese de Sorocaba realizará, durante os gloriosos dias de seu Congresso Eucarístico, o formoso símbolo que se contempla no brasão de armas desse virtuoso Prelado: sob um céu de anil, iluminado pelo esplendor solar da Eucaristia, cândidas ovelhas, em serena e fraternal união, se nutrem nos campos do Senhor. Com efeito, em um ambiente desanuviado de paixões terrenas, a Sagrada Eucaristia iluminará todas as almas que, nesses dias, acudirem à episcopal cidade de Sorocaba, como ovelhas fiéis ao chamamento de seu Pastor.

Quem nesses dias admiráveis admirar a tranquilidade celestial do quadro se lembrará das penas, das fadigas e quiçá das lágrimas que tanta bonança custou a tão feliz Pastor? Manda, entretanto, a justiça que se ponha em relevo, nestes dias de triunfo do Rei Eucarístico, a figura veneranda de quem a Providência escolheu para ser o instrumento de tão belas realizações. É a essa gratíssima tarefa que consagraremos algumas linhas.

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Contemplando de longe a vida que levam os nossos Bispos, recolhidos ao silêncio austero e saturado de meditação de seus palácios episcopais (e quantas vezes o aparente esplendor da palavra “palácio” não serve senão para encobrir a pobreza de uma habitação simples e talvez até desconfortável!), ora absortos na gestão dos múltiplos interesses espirituais e temporais do governo diocesano, ora envoltos na pompa das cerimônias litúrgicas, ora no ambiente protocolar das solenidades públicas, nossos Bispos parecem por vezes ser pessoas que receberam na vida um quinhão de escol, dividindo todo seu tempo entre o repouso das horas de prece, o brilho lisonjeiro das funções do mundo e o aparato apetecível da vida protocolar. E, quem assim só se deixa guiar pelas exterioridades as mais ilusórias, pensará por certo que é atraente e invejável a vida de um Bispo.

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O jugo do Senhor é certamente suave e leve o peso que Ele impõe; isto não obstante, de quantos sacrifícios é feita a vida de um Bispo!

Antes de tudo, o que dele exige a Santa Igreja é uma perfeita imolação interior: não apenas a imolação dos afetos e das tendências ilegítimas, o que a qualquer católico se pede, mas ainda o sacrifício muito frequente das mais legítimas consolações. Deve o Bispo renunciar, por um ato interior profundo e eficaz, a tudo que, em qualquer tempo ou de qualquer maneira, possa entrar em colisão com os interesses das almas, às quais sem reserva se entregou. Só quem conhece a realidade ao mesmo tempo trágica e luminosa que estas simples frases encerram, pode compreender o que a oblação de um Bispo faz, de sua pessoa, no cumprimento do dever pastoral.

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Assim, e só assim, toda a sua personalidade adquirirá as profundas qualidades exigidas de um Bispo como condição de êxito de seus trabalhos.

Uma autoridade que avassale sem suavizar, uma humildade que existe sem prejuízo da autoridade, uma indulgência que sabe perdoar sem jamais pactuar, uma firmeza que sabe se impor sem jamais se exacerbar, uma caridade que sabe elevar os homens sem jamais se rebaixar ao nível das paixões deles; é no equilíbrio de todas essas harmoniosas antíteses que está o segredo da profundidade de um episcopado profundamente embebido do espírito e da seiva de Jesus Cristo.

Não é, pois, em vão que a piedade do Ex.mo e Rev.mo Sr. Bispo de Sorocaba inscreveu em seu brasão de armas o lema: “Per ipsum et cum ipso et in ipso”. Com efeito, é na plena identificação do Bispo com Nosso Senhor que reside a causa profunda da fecundidade de seu apostolado.

Deus sabe o que de sacrifícios deve fazer um Bispo que assim vê seus encargos, no exercício oneroso das funções de mando e na monotonia fastidiosa da vida protocolar. Mas Deus dá o cêntuplo, já neste mundo, aos que assim O servem. E, por isto, quando vir as imensas falanges de seus fiéis formarem em torno do SS. Sacramento, no presente Congresso Eucarístico, uma larga coroa de almas e de corações, o ínclito Bispo de Sorocaba sentirá por certo, a despeito de sua proverbial humildade, que esta coroa é uma imagem da coroa imortal que por recompensa de tantos trabalhos lhe será dada um dia, no Céu.


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