Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 12 de outubro de 1941, N. 474, pag. 2 |
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Começa a surgir por aí uma certa polêmica entre a “Legião Guairacá” e grupos que se lhes opõem. Segundo as aparências “Legião Guairacá” é uma espécie de movimento ou partido de radicalismo verde-amarelo, com fulcro indianista. Nada sabemos das ulteriores finalidades e intenções deste movimento e, assim, não estamos habilitados a emitir um juízo, favorável ou contrário. Por isso mesmo, também não podemos dizer se aqueles que se lhe opõem têm ou não têm razão. Pode mesmo acontecer que ambos não a tenham, o que também não seria novidade na história do mundo. Portanto isto é o que menos nos interessa, no momento. O que muito nos interessa, isto sim, são os argumentos expedidos pelo sr. J. S.., do “Estado de São Paulo”, contra a sobredita “Legião”, argumentos estes que ultrapassam de muito o seu objetivo, e deixam uma órbita de uma contenda política para caírem em cheio numa esfera em que a Igreja tem os mais altos e sublimes interesses. O sr. J. S., para atacar a “Legião”, começou por atacar o índio, dizendo de nosso pobre selvícola as coisas mais tremendas e duras. Para o sr. J. S. o indígena só serve para atrapalhar, é um trambolho que sobra, literalmente “sobra”, no cenário nacional. E, por aí, insinua como um apêndice necessário à “marcha para o oeste”, uma espécie de antropofagia às avessas, exercida do branco para o bugre. Como se vê, processo simples, rápido e eficiente, já usado com sucesso em Esparta, em relação às crianças mal conformadas, e também adotado em outras nações civilizadas. E, assim, o problema do indígena seria colocado em termos extremamente triviais: uma boa metralhadora e mais nada. Justamente agora, que corre o mês das Missões, será interessante relembrar certas noções, que infelizmente parecem um tanto esquecidas. Em primeiro lugar, não se pode esquecer a contribuição do índio na formação da nacionalidade. Os bandeirantes eram, em geral, de meio sangue selvícola e, nas suas expedições, se utilizavam largamente do esforço indígena, pois os índios formavam grossas coortes, dentro da organização das bandeiras. Além disso, teria sido impossível a exploração agropecuária no sul do Brasil, nos tempos coloniais, sem o largo emprego do braço indígena. De fato, a escassez de numerário para a importação do braço africano e a esparsa população branca, teriam constituído óbices insuperáveis. Porém, mais do que tudo isto, o índio tem, como qualquer um de nós, uma alma imortal, feita à imagem e semelhança de Deus, e remida pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se alguém tem o direito de se queixar do índio, será em primeiro lugar a Igreja que, indo buscá-lo no recesso das selvas, cheia de amor e de zelo, recebeu dele tantas ofensas. Mas a Igreja não se queixa; pelo contrário, redobra de solicitude maternal, para com estes órfãos da civilização, que Ela quer fazer Seus filhos. Logo... |