Plinio Corrêa de Oliveira

Legionário, 21 de setembro de 1941, N. 471, pag. 2

O Governo do Ceará acaba de proibir a entrada, nos grupos escolares do Estado, dos chamados suplementos infantis, sendo aí compreendidos quaisquer jornais destinados a crianças, que explorem aventuras fantásticas. Até aí tudo muito bem, ótimo, excelente, extremamente louvável, e só seria de desejar que semelhante medida fosse corajosamente adotada por todos os outros Estados, sem atenção aos interesses mercenários de alguns poucos maus brasileiros, sejam eles quais forem, que mercadejam inescrupulosamente com a alma de nossa juventude. Aliás, não é de hoje que o Ceará vem dando a todo o País edificantes exemplos de sua consciência católica. Portanto sobre este ponto não é necessário dizer mais nada.

O que é interessante e muito digno de reparos, é a repercussão que a esplêndida medida do Governo cearense teve em dois jornais da imprensa paulistana. Repercussão incrível, tão contraditória à evidência dos fatos, que mal se pode conceber. De qualquer forma, representa algo de muito sério e mesmo perigoso. Pois então, dirão os nossos leitores, poderá haver quem, pela imprensa, ouse atacar a saneadora mediada do Governo cearense?

Pois aí é que está. Aqueles dois jornais de nossa imprensa não atacaram o interdito, que baixou sobre os “suplementos”, no Ceará. Pelo contrário, não só não atacaram, mas elogiaram calorosamente. E é exatamente nisto que reside toda a gravidade do caso, que deve alarmar a todos os espíritos bem informados.

É assim que o primeiro desses jornais, no mesmo dia — na mesmíssima edição em que publicava o seu editorial laudatório, em que o redator se solidarizava com a resolução do Governo cearense, afirmando ter sido sempre esse o ponto de vista de seu jornal, e desejando peremptoriamente que a medida fosse rapidamente estendida a todo território nacional — no mesmo dia, na mesmíssima edição, dizíamos, o mesmo jornal publicava uma “Página infantil” repleta das mesmas coisas que eram condenadas pelo redator.

O outro jornal não foi menos categórico no seu apoio à resolução do Governo cearense. Apenas a empresa deste jornal mantem um “suplemento” que é dos mais sensacionalistas, fantásticos e escandalosos de quantos se publicam no Brasil.

Afinal, que é que isto significa?