Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Brotoejas literárias

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de setembro de 1941, N. 470, pag. 2

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Conhecíamos o sr. dr. Renato Kehl como o homem que mantinha o monopólio da eugenia, nesta enorme área do hemisfério ocidental. Perdêmo-lo de vista. Tudo nos fazia supor que durante todo este tempo o mal que ele causava a seus leitores desavisados estivesse circunscrito ao supracitado setor eugênico.

Fomos porém surpreendidos com o seu aparecimento agora como psicanalista.

Lemos um capítulo inédito que vai aparecer na segunda edição de uma “Psicologia de Personalidade” que o esforçado publicista tem no prelo.

Nenhuma novidade, porém. Denota o sr. Renato Kehl neste novo ramo de atividade a mesma caolhice com que costumava deitar meia ciência em matéria de eugenia.

Não vamos entrar no mérito da questão tratada no citado artigo. Não é possível discussão onde as palavras não têm o mesmo sentido. O sr. Renato Kehl se coloca, por exemplo, numa posição diametralmente oposta à da Igreja ao tratar do problema do sofrimento e do pecado. E por supina ignorância ou requintada má fé, faz ele uma tremenda confusão entre o sentimentalismo doentio, fruto do romantismo anticatólico que floresceu de Rousseau para cá, e o espírito de penitência e de reação contra o pecado, de que nos deu exemplo o nosso Divino Salvador. A este respeito, como aliás quanto ao resto, é enorme a desordem mental do neo-psicanalista. Nota ele que há coisas erradas, que há falhas morais a corrigir, fala em perversidade etc. Tudo isso porém tem que permanecer na região das nebulosas. Nada de apontar para a chaga, de dar nome aos bois, de falar em pecado. Pois se o pecado é um tabu!

Sua coragem ao tratar de certos assuntos só é explicável pela sua ignorância. Mostrando desconhecer a versão bíblica da queda original e até mesmo o que diz o primeiro catecismo a este respeito, empresta o sr. Renato Kehl aos católicos a opinião de que o pecado de Adão foi um pecado contra o 6° mandamento!

* * *

Querem uma amostra de como o famigerado membro da Academia Nacional de Medicina se deixa levar pela ânsia de encher laudas de papel?

Começa o seu capítulo inédito por dizer:

“Eximir-se de dores ou amenizá-las tanto quanto possível, fugir às inquietações, às atribulações, às impressões penosas, à infinda série de fatores adversos que amargam a existência, constitui a mais forte e instintiva preocupação de todos os homens. Por anomalia existem indivíduo que se esforçam para gozar a volúpia de sofrer...”

Lá pelo fim do artigo que diz ele?

“Deste modo, a quase totalidade dos nossos semelhantes vive na sujeição a temores fantasistas, no cultivo ao medo de pecar, de ser ímpio, no cultivo, portanto, masoquista, do sofrimento e na satisfação [“sodista” no original, n.d.c.] de propagá-lo.

Confere.

Mas não é tudo. Há no fecho do artigo uma tirada digna dos compêndios baratos de filosofia devidos à pena do insigne Marden.

“Tais foram as insinuações e as pregações ao som melódico de vozes que cantam o Miserere, que o sofrimento passou a ser o recurso único de salvação, a tiranizante fórmula de vida para milhões e milhões de seres, desde séculos e séculos, e ainda assim continuará, enquanto não for substituído pela “vontade de poder”, segundo a qual a vida não é boa, também não é alegria, mas dever”.

Estamos diante de uma autêntica “brotoeja [erupção cutânea, acompanhada de prurido, n.d.c.] literária”, como diria o santo Jackson de Figueiredo.


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