Plinio Corrêa de Oliveira

 

As relações entre

o Nazismo e o Comunismo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 6 de julho de 1941, N. 460

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Ao comentar o conflito teuto-russo, em seu último número, o “Legionário” prometeu publicar uma lista com algumas notícias que deu em várias ocasiões demostrando a solidariedade efetiva dos regimes nazista e comunista.

Move-nos a fazê-lo somente o desejo de tornar bem patente aos nossos leitores o nosso pensamento, submissos aos interesses da Igreja e para evitar que se lance a confusão aos espíritos.

Poupamo-nos o trabalho e o espaço deixando de citar a opinião constante do “Legionário” sobre a identidade entre o nazismo e o comunismo, expressa anteriormente ao famoso pacto nazi-soviético, e que infelizmente muitos leitores recebiam com um sorriso incrédulo, pois então Hitler se preocupava em aparecer como campeão da luta contra o comunismo.

Essa máscara ele tirou apenas quando lhe conveio - nas vésperas do ataque à Polônia - para conseguir mais facilmente seu intento.

Desde então - setembro de 1939 - convencidos nossos leitores da solidariedade entre os dois regimes, preocupamo-nos em preveni-los contra as futuras manobras dos dois chefes anticatólicos e seus sequazes.

Ainda em 1939 escrevíamos que “essa aliança, desde que convenha, se mostra como é: cada vez mais forte”.

Nesse mesmo ano supúnhamos possível a qualquer momento um domínio do Reich pela Rússia.

“É verdade que, afinal, exausta tanto a Alemanha quanto as democracias pela guerra, a Rússia será capaz de impor-lhe uma reviravolta em seu regime interno. Mas isso não deve preocupar muito aos sequazes de Hitler: porque, afinal, um ou outro regime vem a ser a mesma coisa...”.

Em 17 de Dezembro de 1939, quando ainda não arrefecera o espanto causado pelo pacto nazi-soviético, comentando as manobras hitleristas para evitar uma aliança dos países escandinavos com a Inglaterra visando o auxílio à Finlândia, escrevíamos:

“Noticiado um possível conflito do Reich com os sovietes, aqueles países ficam numa situação extremamente difícil: auxiliar a Finlândia ligando-se a quem?

“Na verdade, o próprio auxílio da Itália à Finlândia foi prejudicado com a retenção em território alemão de numerosos aviões. Assim, mantendo a incerteza do ambiente, o Reich se reserva sempre uma última possibilidade de se salvar, sacrificando sua grande aliada.

“Mas, principalmente, ele mantém a confusão no cenário internacional, possibilitando a Rússia, enquanto dure essa indecisão, ir avançando em território finlandês.

“A aliança teuto-russa é mais profunda do que muitos querem crer. Sob a aparente divergência de formas, há um mesmo fundo em ambos os governos.

“Durante muito tempo insistimos em que essa aliança se daria, afinal, quando as conveniências o mandassem. E desde que ela se fez, notamos que é preciso não se esquecer que se trata de duas formas de uma só orientação, o que explicará, a qualquer momento, o sacrifício de uma para assegurar a vitória da outra.

“Indiscutivelmente seria o ideal que o Reich pudesse se salvar da guerra que imprudentemente provocou, para aí substituir em Moscou a foice e o martelo pela cruz suástica”.

Através de todas as alternativas da guerra, desde 1939 até este ano, prevenimos sempre de forma idêntica os nossos leitores contra a confusão que um conflito teuto-russo poderia causar nos meios católicos.

Desses inúmeros trechos dos artigos de fundo, “7 dias em revista” e “Nota internacional” esparsos nesta folha, oferecemos mais alguns trechos aos nossos leitores, com o fito de preveni-los mais uma vez contra a cilada inimiga:

“...na Alemanha, ainda ecoam os últimos sons do festim nazi-soviético, que hoje mostra a nu a solidariedade de suas heresias, se bem que estas ainda possam, amanhã, retomar a comédia, e os disfarces de ontem.”

* * *

“Assim, pois, o comunismo começa a rejeitar a máscara comunista sem rejeitar nem seu espírito nem seus processos. A Rússia real, a Rússia objetiva, a Rússia que os comunistas quiseram fazer e fizeram de fato quando estavam “com a faca e o queijo na mão”, esta Rússia se despe do “travesti” comunista, e aparece tal qual é, aos olhos do mundo inteiro: oligárquica, autoritária, tirânica, absorvente, perigosa.

Evidentemente, o que pode significar isto? Que os comunistas estão ensaiando alguma tática nova. Qual será ela? Ainda é cedo para dizê-lo. Mas nossa geração, que já assistiu a aliança de quase todas as potências do pacto anti-Komintern com a Rússia, assistirá talvez a alguma outra cena do gênero. Será, por exemplo, a Rússia se transformar em potência anti-Komintern. E se não for isso, será qualquer outra farsa neste gênero. Os ingênuos que se preparem. Deve haver, pelo ar, algum “menu” rico em fraudes de toda a ordem de que, com sua voracidade habitual, não deixarão de deglutir e degustar a todas elas, sem exceção”.

* * *

Em 29 de Dezembro de 1940 prevíamos o que ora sucede, no seguinte tópico:

“O “Legionário” já teve ocasião de dizer insistentemente, em mais de um de seus números, que a hostilidade fictícia do nazismo contra o comunismo, amainada oficialmente (“oficialmente”, sim e só “oficialmente”, pois que no terreno concreto nunca houve luta e nada havia a amainar) por interesses políticos de momento, poderia, de um instante para outro, readquirir novo vigor, sendo muito do feitio do ditador nazista dar um golpe rijo no comunismo, apresentar-se assim à humanidade como um novo Constantino, e, prestigiado pelos louros desta vitória “cristã”, empreender mais resolutamente do que nunca a guerra ao Catolicismo”.

“Noticiamos, em edição anterior, que o Partido Comunista búlgaro, obediente à III Internacional como costumam sê-lo todos os partidos da esquerda, distribuiu na Bulgária numerosos boletins em que procurava desanimar o povo em relação a qualquer reação violenta contra a investida nazista.

“Dias depois, o telégrafo nos traz, entretanto, a curiosa informação de que o Kremlin protestou oficialmente contra a ocupação da Bulgária por tropas alemãs.

Assim, ao que parece, a Rússia procura novamente afivelar a máscara do anti-nazismo, ainda há poucos dias considerada antiquada e inútil pelos dirigentes soviéticos. É possível que a farsa vá longe”... previa o “Legionário”, quando surgiram os primeiros rumores da ocupação nazista na Bulgária.

“A política internacional continua cheia de mistérios, entre os quais o mais importante é o das relações teuto-russas. As duas potências totalitárias parecem estar representando, para o mundo inteiro, uma farsa de esconde-esconde. Ora deixam cair a máscara de sua pseudo-incompatibilidade, e apresentam ao público suas faces idênticas de irmãs siamesas, ora cobrem-se novamente com a máscara de inimigos iracundos, e ameaçam travar entre si uma luta de morte. No meio de tudo isto, o público crédulo e ingênuo fica sem saber o que pensar. E, assim, a mascarada vai continuando enquanto os atuais senhores do mundo quiserem”.

*   *   *

A dança de aproximações e recuos entre a Rússia e o III Reich, indicada no tópico acima, teve confirmação no seguinte, publicado em outra ocasião, em 1940, reproduzindo os comentários dos jornais, que previam então um esfriamento daquelas relações:

“Disto, seria um índice expressivo o tratado anti-soviético firmado pelo governo japonês com um grupo de chineses por este elevado à categoria de governo da grande república oriental. Aliado da Alemanha, o Japão não poderia entrar em colisão com os sovietes sem afetar, indiretamente, a solidez das relações russo-germânicas. A atitude do Japão não teria, certamente, sido tomada sem uma sondagem prévia em Berlim, onde teria sido declarado que um atrito nipo-soviético e um consequente esfriamento germano-russo, não desgostariam Berlim. E, assim, a precariedade das relações entre o comunismo e o nazismo transpareceria claramente.

“Tudo isto parece claro, e bem raciocinado. Mas é errado”.

E estava errado. Não demorou muito para vermos Stalin e Matsuoka, um nos braços do outro.

* * *

Em novembro, comentávamos as manobras diplomáticas de Hitler:

“Após a visita de Hitler à França, e do seu encontro com Franco, verificou-se que os esforços de Laval e Serrano Suner foram em parte frustrados por várias circunstâncias.

“Na Espanha verificou-se idêntica resistência da opinião pública à tentativa de arrastar o país à guerra para servir o eixo.

“Em vista dessas circunstâncias, que impedem o ataque a Gibraltar e de haver fracassado a invasão da Inglaterra, restando assim apenas a possibilidade do ataque ao Império pelo canal de Suez, Hitler necessitava resolver com a Rússia a questão dos Dardanelos.

“A URSS, por todas as formas e em todos os tons, fez constar sua oposição ao domínio dos Balcãs pelo eixo com desrespeito à sua zona de influência.

“Hitler invadiu os Balcãs. A URSS não se moveu apesar disso.

“Verificando a inutilidade dos esforços junto à Espanha - para o que afivelara novamente a máscara anticomunista, autorizando sua imprensa a atacar o governo de Moscou, Hitler deixou a farsa e resolveu entrar mais uma vez em entendimento com os sovietes.

“Para esse fim vale muito a lembrança da guerra russo-filandesa, e a imprestabilidade do exército moscovita. Dos fracassos de seus aliados tira o führer grande proveito, para se impor como senhor único da Europa.

“Assim, a desvalorização das forças russas permitiu-lhe exercer pressão suficiente para que Molotov se abalasse de Moscou a Berlim”.

Agora, a situação estava melhor preparada, e o anticomunismo de última hora arrasta toda a Europa.

* * *

“Como todos veem, a colaboração germano-russa está atingindo seu auge, pela intervenção ativa russa, ao lado da Alemanha, na política asiática. O “Legionário” já previu longamente tudo quanto se está passando. E, exatamente agora, quando parece ter chegado a seu zênite esta colaboração, permitimo-nos adiantar mais uma coisa a nossos leitores, coisa esta que certamente lhe causará surpresa: no pé em que estão estas relações, tanto é possível que durem longamente, quanto que de repente a Alemanha agrida a Rússia. E tudo isto sem que deixe de ser perfeitamente real a simbiose nazi-comunista.

“Qui vivra verra”.

* * *

Convencidos da solidariedade teuto-russa, estávamos também certos da inconveniência da sua clara manifestação, para o nazismo, esperando antes um aparente conflito.

Por isso manifestamos nossa surpresa quando numerosos telegramas anunciaram que aviadores russos auxiliavam o Iraque em sua luta contra a Inglaterra:

“Também a atitude da Rússia é motivo de surpresa. Não porque houvesse razões para se duvidar da solidez dos laços que unem Berlim e Moscou - laços que se romperão apenas quando, vencidos os demais adversários comuns - e que são todos os países em que ainda predominam uma civilização cristã e católica - devem decidir da supremacia entre si. A surpresa no caso consistiu em que não se esperava que a Rússia arrancasse já a máscara da neutralidade e fosse auxiliar materialmente a luta contra a Inglaterra.”

Os fatos demonstram ser razoável essa surpresa: os telegramas a respeito não eram verdadeiros.

* * *

Concluindo uma nota sobre as manobras do gênero das acima expostas, em que eram comparsas Hitler-Stalin, deixávamos claro o nosso pensamento, há alguns meses atrás:

“A repetição desse fato não esclarece apenas os espíritos obtusos ou de má fé: na realidade a política nazista ou comunista são irmãs gêmeas, e uma estará afinal disposta até a se sacrificar pela outra, para a consecução do fim comum: a destruição da civilização cristã no mundo.”


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