Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Anúncios imorais

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de junho de 1941, N. 457, pag. 2

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Há já algum tempo foi estabelecida a censura dos anúncios de medicamentos. Esta medida se justifica de si mesma, para evitar o charlatanismo e a exploração dos que, procurando vender suas panaceias, impressionavam a imaginação popular, fazendo-a ver males quiméricos, e amedrontando-a com perigos fantásticos. Estes negociantes inescrupulosos prevaleciam-se do clássico e generalizado nervosismo do comum das pessoas, que logo sentem em si mesmas os sintomas de todas as doenças, desde que lhe são explicados. E, assim, vendiam as suas drogas, que, se não eram prejudiciais à saúde, tais se tornavam pelo uso arbitrário e indiscreto. Aliás, no estabelecimento desta censura apenas foi seguido o exemplo de outros países civilizados, que, de há muito, vêm coibindo a propaganda espalhafatosa e indiscriminada de produtos farmacêuticos.

Entretanto, se é perfeitamente justo e compreensível que os poderes competentes assim se preocupem pela saúde pública, maior preocupação lhes deve dar a moralidade pública. Infelizmente é preciso verificar que o nível moral dos anúncios em geral vem baixando dia a dia. Os principais responsáveis por semelhante estado de coisas são as empresas especializadas de propaganda, que, no afã exclusivo da publicidade eficiente, não só não levam em conta os imperativos dos bons costumes, como também não trepidam em lançar mão de recursos menos limpos, lisonjeando os baixos instintos e as más inclinações. Com propósito, ou sem nenhum propósito, os anúncios aparecem ornamentados, com uma frequência lamentável, de figuras despidas, que são o vergonhoso chamariz da atenção popular. Para o futuro, quando houver passado a mísera fase atual da história do mundo, estes anúncios serão documento do grosseiro e obsedante sensualismo, que oprime a sociedade contemporânea.

Porém a desfaçatez atingiu o auge no anúncio de certo elixir estomacal, em que há uma historieta ilustrada de uma obscenidade revoltante. Este anúncio é um ultraje à honra da família brasileira, e será um crime permitir que continue a ser publicada nos jornais, para ir ofender o decoro e a inocência dos lares com a sua pornografia pestilencial e nauseabunda. Certamente já foram tomadas as devidas providências, para que isso não torne a acontecer.

Quanto a nós, católicos, cumpre-nos o dever de não comprar, absolutamente, os produtos que se apresentem com semelhante propaganda. Será uma das providências mais enérgicas e eficazes para acabar [com isso] [erro de composição tipográfica do jornal, tendo ficado faltando as palavras finais, tendo sido acrescentadas por nós “com isso”, n.d.c.].


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