Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...

 

Santa Cecília

 

Legionário, 27 de abril de 1941, N. 450, pag. 2

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Há em certas coisas um tal poder de significação, que chegam a expandir em torno de si um ambiente característico, e dão um sabor próprio a tudo o que se acha vizinho. É assim a matriz de Santa Cecília. São Paulo não seria bem São Paulo se não existisse essa Igreja, com toda atmosfera que lhe é peculiar. Santa Cecília é, portanto, algo de institucional, é uma parte importante de nossa civilização.

Entretanto, erraria cabalmente quem, num julgamento superficial, pensasse que Santa Cecilia é apenas uma igreja de grande valor artístico, impecavelmente limpa, onde tudo decorre numa regularidade e ordem perfeitas, em que reina uma calma cheia de serenidade e nobre distinção, e por isso, seria a igreja preferida pelas altas camadas da sociedade, que para lá acorrem às chamadas Missas “elegantes”.

Não. Mesmo as pessoas mais fúteis, que transformam a assistência à Missa numa exibição de modas, sentem-se atraídas, no fundo, pelo mistério espiritual desta igreja. É uma última nostalgia da verdadeira religião, que punge estas almas engolfadas no mundanismo, e as impele, sem que elas tenham plena consciência, para a sombra piedosa de Santa Cecília. Sem o saberem, elas buscam no sossego religioso desta igreja, a satisfação dos anseios mais secretos do coração, que a agitação febril do mundo só faz iludir ou exasperar.

Porque Santa Cecília é uma igreja carregada de carismas. Não há quem não sinta entre seus muros a paz sobrenatural e profunda, repleta de jubilação mística, que revela a inefável presença do Espírito Santo. Desprende-se de toda a igreja um convite insistente à oração. Não é de estranhar que assim seja, pois estas paredes foram argamassadas com as orações de párocos de uma piedade singular. Dom Duarte cavou-lhes os alicerces; Dom Benedito deu-lhes incremento; e Dom Paulo Pedrosa rematou-as, e cobriu-as de valiosas obras de arte. Além disso, prelados eminentes, que ilustram o Clero nacional, iniciaram sua carreira no presbitério de Santa Cecília: Dom Sebastião Leme, Dom Paulo de Tarso, e hoje preside os destinos desta igreja privilegiada a figura inconfundível do Cônego Luiz, que mantém à mesma altura as esplêndidas tradições de zelo e piedade, legadas por seus antecessores. Pároco infatigável, não se limita a cultivar a vida interior de sua paróquia, mas se esforça por aumentar o brilho e o esplendor do culto divino, não medindo trabalhos para conservar e reparar as obras de arte, e o próprio edifício de sua matriz.

Esta é a finalidade altamente simpática da quermesse, que ora realiza na paróquia de Santa Cecília. E todos os que devem a essa igreja algum favor espiritual, sem dúvida hão de contribuir para o bom êxito da iniciativa.

42 anos depois...

"Palavrinha" a juveníssimos bolivianos em visita a São Paulo, 20 de dezembro de 1983

Bem, que pergunta fazem meus bolivianos?

(Visitamos a Igreja de Santa Cecília. Queríamos saber o que ela significa para o Senhor.)

A Igreja significa, para mim, 3 coisas distintas e uma só coisa. É um paradoxo, mas é assim. Ela significa, fundamentalmente, uma igreja boa dos tempos bons da Igreja Católica Apostólica Romana. Tem a fisionomia, o ambiente externo e interno —que as boas igrejas, as igrejas sem pretensões—, das boas igrejas normais, que havia no Brasil naqueles tempos.

Benedito Calixto - Conversão de Pedro Corrêa - Igreja de Santa Cecília

Aquilo que a igreja tem de mais artístico tem algo a dizer aos brasileiros, não muito para os outros. Tem certos quadros, bonitos, pintados por um pintor brasileiro que se chamava Benedito Calixto, e que pintou quadros com cenas marítimas. Cenas marítimas tomadas da vida dos antigos jesuítas de aqui. O mar, as cenas marítimas, são muito bonitas. Mas esse é um comentário exclusivamente terreno.

Um comentário de porte mais alto é que a igreja tem vitrais muito bons; de fabricação alemã; precisamente, “Winnderbach”! E que isso reflete, com a liturgia de então, a fisionomia santa, digna, nobre, eterna, da Igreja Católica de sempre. Essa é a coisa.

Batistério da Igreja de Santa Cecília

Para mim reflete outra coisa. O Batistério me faz pensar no dia em que fui batizado. A igreja me faz pensar em dois períodos distintos de minha vida. Um período em que eu era ainda estudante secundário, e ia àquela Igreja todo dia, para rezar. E rezava diante do Santíssimo Sacramento, e depois – os senhores estão vendo, eu não seria eu se não o fizesse – ia rezar diante da Imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, que está do lado do Evangelho. Depois rezava e admirava um sarcófago com uma mártir romana – talvez tenham visto lá –me impressionava muito isso [Santa Donata].

E eu rezava muito para obter minha perseverança. Eu tinha medo de não perseverar, vendo que o mundo inteiro era diferente. Depois me lembro o tempo, bem mais tarde, quando eu fui Congregado Mariano em Santa Cecília. Era aquela Paróquia. Então comecei a luta pela Igreja Católica lá, naquela Congregação Mariana.

Me lembro dos Congregados Marianos; entravam todos cantando, com uma fita azul aqui [em torno do pescoço e com uma medalha no peito]; entravam cantando, eu entrava também. Ocupávamos os bancos, assistíamos a missa, comungávamos e saíamos. Depois íamos a uma reunião. Essas são recordações muito boas, que eu guardo dessa igreja.

 

As fotos dessa igreja, que ilustram o presente artigo, têm como fonte o muito belo e rico site HISTÓRIAS, FOTOGRAFIAS E SIGNIFICADOS DAS IGREJAS MAIS BONITAS DO BRASIL:

https://sanctuaria.art/2016/02/01/igreja-de-santa-cecilia-sao-paulo-sp/


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