Plinio Corrêa de Oliveira
Como auxiliar o Congresso Eucarístico
Legionário, 20 de abril de 1941, N. 449 |
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Razões mais fortes para que todos cooperem com a junta Executiva e as várias comissões organizadoras do Congresso Eucarístico não pode haver; haverá gente que não possa cooperar? A essa pergunta, se opõe uma resposta decisiva: ninguém há, que não possa rezar e mortificar-se para conseguir de Nosso Senhor o êxito do Congresso. Logo, ninguém há que para o Congresso não tenha muito que fazer... A este propósito, lembremo-nos de um valoroso pensamento de Dom Chautard. Mostra ele que não faltam pessoas que prescindem da oração para o êxito de seu apostolado, julgando que, desde que Deus não consinta em atrapalhações insuperáveis, os meios naturais conseguirão tudo. E, em seguida, aquele ilustre filho de São Bernardo mostra o erro imenso que há nesta atitude. Ou Nosso Senhor é a vida de nossas obras, ou esta não tem vida, e, portanto, de nada valem. Assim, a grandeza do Congresso Eucarístico resultará, antes de mais nada, das orações e das mortificações das almas piedosas, desde que as acolha com bondade a misericórdia divina, do que ninguém duvida. Mas não basta orar e mortificar-se. Dos que só podem fazer isto, só isto se pode exigir. Mas o Congresso precisa estar à altura dos recursos que São Paulo tem a obrigação de mobilizar para prestar homenagem a Nosso Senhor. Realmente, não pensem os afortunados em bens de dinheiro, que é dispêndio supérfluo multiplicar os donativos com o propósito de dar maior brilho às solenidades. Toda a pompa - que deverá ser régia - de que se cercarem as celebrações, ainda será pouca. E os que pensarem de modo diverso reeditam a reflexão de Judas, que lamentava o dinheiro gasto para ungir os sacratíssimos pés de Nosso Senhor, pois que poderia ser dado aos pobres. Entretanto, não foi para dar 30 dinheiros aos pobres, que ele vendeu o Redentor. Os pobres eram, em seu espírito, mero pretexto. Quantos ricos haverá que acham que não devem contribuir para o Congresso porque melhor seria dar o dinheiro aos pobres? Esta reflexão é errônea, como já dissemos. Mas será ao menos verdade que vai para os pobres o dinheiro que assim eles procuram economizar? Entretanto, não é só de dinheiro que o Congresso precisa. Ele precisa de influência, de dedicações. Quantas pessoas há que, além de poderem concorrer com dinheiro, poderiam pôr suas relações sociais ao serviço do Congresso, obtendo para a realização deste vantagens das mais preciosas? Quantas pessoas há que poderiam pôr ao serviço da Junta executiva um talento real, um tino diretivo do mais alto valor, uma capacidade de trabalho mais valiosa que qualquer donativo? Entretanto... se é certo que o Congresso já está mobilizando muitas dedicações, quem ousaria afirmar que todas as dedicações mobilizáveis já se puseram ao serviço dele? * * * Não fiquemos nas lamentações. Ao exame de consciência deve suceder sempre o propósito de emenda. Demos tudo quanto possamos dar. Rezemos para que o próximo faça o mesmo. Em torno de nós, não poupemos os conselhos para que os outros também se dediquem a tão grande tarefa, e o Congresso será aquela estupenda manifestação de Fé e de desagravo a Nosso Senhor, que o Brasil católico está na obrigação de lhe tributar nos tristíssimos dias que correm, servindo-se para isto da cidade que Anchieta fundou. Ora, exatamente neste momento, na velha Europa os frutos do protestantismo - o totalitarismo da direita e da esquerda - chegam ao auge de seu efeito maléfico, e sob o zorrague de novo algozes, aquele continente, como disse S.S. o Papa Pio XII na alocução que hoje publicamos, assiste à confecção de “uma verdadeira enciclopédia de sofrimento” a que são expostos os defensores da Fé, conforme o manifesto intento dos inimigos da Igreja, de extirpar totalmente o Catolicismo da Europa, para mais facilmente o extirpar, em seguida, do resto do mundo. Neste momento, pois, o Brasil deve corresponder ao anseio supremo de seus primeiros missionários, e, pela afirmação solene, pública, esplêndida, magnificentíssima de sua Fé e sua união à Cátedra de São Pedro, mostrar que extirpar no Brasil a Fé católica é coisa tão difícil quanto fazer desaparecer toda a nação brasileira. * * * Infelizmente, esta razão não é a única. Hoje, não temos, na barra de São Salvador ou do Rio de Janeiro, uma armada luterana ou calvinista a rechaçar. Mas os surtos da heresia, embora não se manifestem à mão armada, nem por isto são menos pertinazes e menos dignos de vigorosa e decisiva reação. Uma heresia que tem a seu serviço uma esquadra pode, em casos embora raros, não ser mais temível do que outra, que tenha a seu serviço uma rádio emissora. A propaganda herética não faz mártires, mas pode fazer apóstatas. Assim, pois, se o Congresso Eucarístico, considerado como afirmação de Fé, coram populos é um dever por assim dizer histórico, dever mais grave ainda é a preservação da integridade Religiosa neste solo santificado pelos despojos mortais que nele jazem, dos que preferiram, em Guararapes e em outros campos de luta, perder a vida a consentir na retaliação e descatolicização do País. * * * Há duas grandes razões pelas quais a ninguém é lícito eximir-se de prestar auxílio ao próximo Congresso Eucarístico Nacional cooperando com os organismos para este fim instituídos pela Autoridade eclesiástica: todos têm a obrigação de dar glória a Deus, e o Congresso representa uma iniciativa de tal ordem, que não há uma só pessoa que não lhe possa prestar um concurso útil, por mais desvalida que, sob todos os pontos de vista, ela seja. * * * A razão primordial e essencial do Congresso consiste em prestar culto solene e público a Nosso Senhor Sacramentado. A doutrina católica afirma, com razão, que, assim como os indivíduos são obrigados a adorar a Deus, também as grandes massas humanas, os Municípios, os Estados, os Países, devem prestar-lhe culto público e oficial. Efetivamente, não se compreende que aquilo que todos devem poder fazer em particular, não possam e devam fazer como coletividade, em público, e de modo oficial. Se, com um conta-gotas, pingarmos lentamente água em um copo, até que este se encha, teremos um copo de água. Esta massa maior de água, resultante da fusão das pequenas gotas, tem evidentemente a mesma natureza e as mesmas propriedades, que as gotas que a compõem: efetivamente, as qualidades do todo resultam das qualidades das partes. Se tomarmos, um a um, grande número de homens, e verificando que todos eles são católicos, a multidão que resultará do convívio de todos estes homens tem de ser por força uma multidão católica. E assim como um homem católico ora, pensa, age como católico, assim também uma multidão de católicos - ou seja uma multidão católica - não pode pensar, agir e viver como uma multidão qualquer, mas tem de orar, agir e pensar como uma multidão católica. Os deveres do todo são uma resultante dos deveres das partes. Por razões que agora não nos compete examinar, estamos em uma situação que a sabedoria de nosso Episcopado não desejou até aqui alterar: o Brasil é um país que não tem Religião de Estado. Isto não obstante, não estão os brasileiros dispensados de prestar culto público a Nosso Senhor, pois que, se bem que o Estado se diga neutro desde 1891, o país continua católico, apostólico, romano, e esse país católico quer, deve e pode prestar a Nosso Senhor o culto público de sua adoração, com um esplendor capaz de repercutir fora de nossas fronteiras e atestar perante todos os povos que o Brasil é filho da Santa Igreja. Em primeiro lugar, devemos a Nosso Senhor esta homenagem. Este ponto não carece de demonstração. Basta que pensemos em Deus, e depois analisemos nossas condições de criaturas por Ele reunidas, para que compreendamos isto. Em segundo lugar, obriga-nos a este culto público um dever que eu chamaria quase de honestidade para com os fundadores da Nação. Efetivamente, quando os navegadores e os missionários portugueses franquearam o caminho que conduzia ao Brasil, e, no Brasil, rasgaram as rotas que os levavam ao âmago do sertão, uma convicção que jamais deles se afastou, e que inspirou feitos admiráveis foi de que, tendo a pseudo-reforma protestante roubado à Esposa Imaculada de Cristo, que é a Igreja, regiões inteiras da Europa, cumpria dilatar nestas terras novas o Reino de Deus como reparação pelos revezes sofridos em outras regiões. Assim, a catolicidade expulsa da Prússia, da Inglaterra, da Escandinávia, se expandiria no novo mundo, cravando aqui raízes que lhes permitissem resistir com eficácia, em outras regiões, contra as investidas satânicas da heresia. Assim, a esperança de que as orações, os esforços e o sangue despendidos na evangelização do Brasil viessem a constituir de futuro, uma reserva preciosa para a Igreja, foi a razão profunda e o anelo supremo dos mártires que aqui morreram, dos heróis que aqui lutaram por Deus, e das almas contemplativas que aqui se imolaram em outras aras como vítimas de expiação. Esta esperança não desfaleceu com os tempos. E, assim, quando a heresia trazida pelas armas francesas e holandesas tentou abrir uma cunha na esplêndida unidade religiosa da América meridional, não foi só em nome da Pátria, mas ainda em nome da Igreja que se levantaram as mais heroicas reações, e mais uma vez se ensopou em sangue o solo brasileiro. Por mais que se oculte esta verdade, é incontestável que as guerras contra os franceses e holandeses foram autênticas lutas de Religião. |