Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Incompetência

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 30 de março de 1941, N. 446, pag. 2

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O sr. Paulo de Almeida Toledo é, não se pode negar, um espírito privilegiado. Nestes nossos tempos, em que o estudo das coisas medievais constitui um problema seríssimo, que empolga a atenção das mais altas inteligências, que ocupa lugar importante no estudo das mais célebres universidades do mundo, e em que se realizam constantemente novos progressos, estando-se, ainda, muito longe da palavra definitiva sobre o conteúdo riquíssimo desta época palpitante, que foi a Idade Média – é justamente nestes tempos de hoje que o sr. Paulo de Almeida Toledo conseguiu apresentar uma síntese de toda a filosofia medieval em 58 linhas de linotipo, nenhuma a mais, nem menos.

Quem duvidar do prodígio poderá verificá-lo em “O Estado de S. Paulo”, que publicou, recentemente, a colaboração “científica” daquele ilustre senhor, em vários rodapés, filiados ao título “O método científico e a história das radiações”. Poderia também chamar-se “A doutrina de Confúcio e a entomologia comparada”, ou ainda “Chapeuzinho Vermelho e o lobo mau”, sem grandes inconvenientes, mas isto não vem ao caso.

O que é simplesmente desconcertante, é a candura descuidada com que o sr. Paulo vai afirmando sapientemente as coisas mais transcendentais, sobre que outros espíritos se detêm cautelosos. Mas o sr. Paulo não se deixa prender por escrúpulos. Para ele, a Summa Teológica está julgada: é um amálgama disparatado de dogmas, preconceitos e legados científicos da cultura grega, “numa estranha fusão católico-pagã, de leis mosaicas e conceitos aristotélicos”. E por aí vai o sr. Paulo, com maestria incomparável, atirando ao vento as suas consumadas idiotices, estatelando a sua crassa ignorância, que só se pode medir pela sua audácia, petulância e irresponsabilidade.

Quem se atreve a formular tal juízo sobre a Summa Teológica, este monumento de sabedoria mais do que humana, demonstra que nunca sequer folheou esta obra, e, portanto, age de má fé, quando a condena sem a conhecer. Ou então não teve capacidade para compreendê-la, e a mais comezinha probidade intelectual proibia-o de a condenar.

Em tudo isto se manifesta a completa despreocupação pela verdade, que é própria aos pedantes. A verdade para eles não é o supremo bem da humanidade, que deve ser procurado apaixonadamente. Eles só querem enfunar a sua tola vaidade, “fazendo bonito” aos olhos do mundo, o que é abominável e repugnante.

Afinal de contas, o direito de dizer asneiras tem limites.


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