Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Ainda o carnaval

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de março de 1941, N. 445, pag. 2

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Ainda não faz muito tempo, certo jornalista, declarando-se ardoroso católico, afirmava que a Igreja não deveria combater o carnaval ao ponto de estabelecer até retiros fechados, exatamente nesta época do ano. Este jornalista, que, evidentemente, não tinha nada de católico, queria conciliar a Doutrina Católica com a imoralidade carnavalesca.

Agora, entretanto, uma revista carioca, que não é, nem se diz católica, veio trazer uma nova condenação ao carnaval, não já em nome da moral e da religião, mas em nome do decoro nacional. Esta revista diz que é simplesmente um descalabro para o bom conceito internacional do Brasil a presença de turistas estrangeiros entre nós, durante aqueles três dias. E isto porque não é raro verem-se certas pessoas que, patentemente não são brasileiras, fotografarem cenas grosseiras e escabrosas, que se desenrolam ostensivamente pelas ruas. Muitas destas fotografias serão certamente publicadas no estrangeiro, e irão espalhar por todo o mundo uma ideia pouco airosa do Brasil.

Como se pode ver, o depoimento é insuspeito. E, no entanto, vive-se a fazer alarde do nosso carnaval aí por fora, como se fosse a mais alta produção do espírito nacional!

Organiza-se uma propaganda vistosa e custosa, as agências de turismo organizam excursões espetaculares, tudo para que? Para estatelar aos olhos assombrados do turista estrangeiro uma coisa vergonhosa, que deveríamos esconder cuidadosamente, pudicamente. Ora, o mundo inteiro depois de assistir a uma festa de que nos lisonjeamos babadamente em lhe mostrar, como se fosse um índice de nosso valor nacional, outro conceito não poderá fazer do povo brasileiro senão que é uma espécie de tribo africana, ainda mal afeiçoada à civilização, e que ainda tem rituais bárbaros, oficialmente consagrados.

Todos os povos têm seus defeitos, como todos os povos têm também suas qualidades. O verdadeiro patriotismo consiste em suprimir e - quando isto não é possível - pelo menos em ocultá-los e em acentuar e assinalar as segundas. Infelizmente, há quem pense exatamente o contrário, entre nós. Há, mesmo, quem se compraz com os vícios nacionais, julgando-os um apanágio que deve ser conservado e engrandecido. Semelhantes aberrações do senso patriótico deveriam ser combatidas sem tréguas, por todos os meios. Mais nada melhor para isso do que a Igreja, que, ao encaminhar os povos para o Céu, engrandece-os ao mesmo tempo nesta terra.


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