Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 19 de janeiro de 1941, N. 436, pag. 2 |
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Foi fundada a Igreja de Jesus. Ao contrário do que o nome poderia fazer supor, a “Igreja de Jesus” não foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem a fundou foi o cidadão Silvino-Pupo Ferreira, nesta mui leal cidade de São Paulo, em fins do ano passado. Este sr. Silvino quis ser completo na sua coisa. Assim, como a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, que é a católica, teve um Colégio Apostólico de doze membros, a Igreja “sloper” (sucata) do sr. Silvino não se deixou ficar atrás. Porém, posto que a nossa época é essencialmente burocrática, em vez de um Colégio Apostólico tem um Conselho Administrativo de doze membros. E, para que não se pense que esta igrejinha é brinquedo de criança, foi solenemente disposto nos estatutos que ela durará “para todo o sempre”. Pondo de lado o ridículo, que cerca esta enxurrada de igrejolas e centros espíritas, que se vai esparramando por aí, queremos, apenas, assinalar a ilusão, velha como o protestantismo e todas as falsas reformas, dos que pretendem fundar Igrejas para o cultivo e a prática da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta ilusão consiste em pensar que o Salvador veio ao mundo principalmente para pregar uma doutrina. Por causa dessa doutrina, então, os homens se reuniriam em sociedades culturais, chamadas igrejas, para estudá-la e praticá-la. Tudo se passaria, portanto, como nas escolas filosóficas, científicas ou literárias, em que os discípulos se reúnem para aprofundar e perpetuar os ensinamentos do mestre, que, sem isso, cairiam no olvido. Ora, eis aí o erro: erro profundo e diabólico, que altera por completo a fisionomia do cristianismo, desfigurando-o e tornando-o irreconhecível. A primeira missão de Nosso Senhor Jesus Cristo, o motivo principal da Encarnação, foi o Sacrifício do Calvário, pelo qual a humanidade foi reconciliada com Deus para se tornar Sua Filha e herdeira do Céu. Logo em seguida, vem a fundação da Santa Igreja, para ser a depositária e dispenseira dos frutos infinitos da Redenção. Só depois é que vem, em ordem de importância, a pregação da doutrina. De facto, nada adiantaria à salvação dos homens a pregação da doutrina, sem o sacrifício expiatório e sem a Igreja, que aplicasse os frutos deste sacrifício. Por conseguinte, ao contrário do que acontece nas sociedades culturais, não é a Igreja que foi feita para a doutrina, mas a doutrina para a Igreja. E, assim sendo, o sr. Silvino perdeu tempo e choveu no molhado ao fundar a Igreja de Jesus. A Igreja de Jesus já foi fundada há vinte séculos pelo próprio Jesus Cristo, que não tem necessidade de Silvinos para salvar a humanidade. |