Plinio Corrêa de Oliveira
Comentando...
Legionário, 12 de janeiro de 1941, N. 435, pag. 2 |
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A coisa já é velha, mas só agora chegou ao nosso conhecimento. Confessamos que nos causou profunda tristeza o que aconteceu. Não se pode negar, existe um real progresso no jornalismo nacional. Já não se veem mais aquelas deploráveis polêmicas em que os contendores se descompõem em baixo calão, sem nenhuma ideia superior em jogo, mas versando apenas despeitozinhos pessoais e intrigas suburbanas. A praga da Secção Livre cedeu, já não sendo utilizada senão para as lides forenses, e, assim mesmo, com certa moderação. E, ainda quando se trata de atacar pessoalmente, os articulistas preferem a ironia fina e delicada, que não quebra a linha da boa educação, mesmo quando é venenosa e corrosiva, no que seguem, louvavelmente, a corrente do mais atual do jornalismo. Eis que, no entanto, bem na Capital do país [então no Rio de Janeiro, n.d.c.], “O Globo” tocou a se destoar em tão belo espetáculo de aperfeiçoamento cultural, mostrando que, por baixo do verniz civilizado, arde indômita a índole botocuda, pronta a saltar de tacape em punho, e a realizar um banquete antropofágico. É profundamente lamentável que aquele jornal, em sua edição de 17 de Dezembro p.p., se tenha saído, logo na primeira página com uma autêntica pasquinada, naquele velho estilo enfurecido e encaroçado, com que os coronéis de roça discutiam politiquices aldeãs. O colérico redator do “O Globo”, tomou a si a tarefa ingrata de atacar malcriadamente o ilustre jesuíta Pe. Arlindo Vieira, porque este virtuoso sacerdote condena em seus artigos a imoralidade das praias, das piscinas, das modas, apontando o perigo que correm as novas gerações. O mais notável é que este desatinado redator se faz passar por católico durante todo o tempo em que agride sacrilegamente o Revmo. Pe. Arlindo Vieira. E é em nome “da nossa religião” que pede ao Cardeal queira coibir tão santa campanha... Isto tem uma estranha semelhança com o que, há vários séculos, dizia Tartufo: «Ah ! pour être dévot, je n'en suis pas moins homme”... Ainda no último número assinalávamos que a técnica dos inimigos da Igreja evoluiu consideravelmente. Antigamente, o Catolicismo era atacado abertamente. Hoje, tratam-no com mesuras, sorrisos e rapapés, enquanto se vai estrangulando-o sorrateiramente, tirando-se-lhe aos poucos, e sem ruído os meios de existência. A atitude do redator de “O Globo”, dizendo-se católico, e atacando truculentamente um padre, denota espírito esclerosado, que não soube adaptar-se a essa nova técnica. Quer parecer amigo da Igreja, mesmo seu filho, dirige-lhe elogios desajeitados, mas o antigo vezo anticlerical se lhe denuncia no modo atamancado com que insulta um sacerdote. E assim, a hipocrisia se manifesta ridiculamente aos olhos de todos. Os seus companheiros de combate devem estar furiosos... |