Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O Natal e a paz

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 29 de dezembro de 1940, N. 433, pag. 2

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Afinal não houve tréguas durante o Natal deste ano. Apesar dos esforços comoventes do Sumo Pontífice, a humanidade, esquecida de seu Salvador, que sendo Deus tomou a natureza de servo, continuou a digladiar-se ferozmente. É que hoje não existe a ideia de Cristandade, isto é, da comunhão dos povos batizados, por oposição aos povos não batizados, pagãos, que não podiam entrar naquela comunhão. Já não existe a noção de que os povos, que nasceram novamente pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, são irmãos entre si, constituem todos uma só raça escolhida, de uma dignidade incomparável; e que, se por infelicidade, alguma guerra surgir entre eles, deverá manter-se sempre dentro de certos limites, ditados pela Justiça e pela Caridade. Aliás, foi esta ideia de Cristandade que gerou todo o Direito Internacional, quase inteiramente, desconhecido dos pagãos; e, com o desaparecimento desta ideia, submerge, hoje em dia, o Direito Internacional na mais espantosa barbárie.

Pois o nazismo não faz a apologia do paganismo? E o racismo não é uma oposição formal à Redenção que Nosso Senhor Jesus Cristo trouxe à humanidade?

Por isso, enquanto assistíamos a Missa do Galo, não podíamos esquecer uma cena maravilhosa, que se passou há 1140 anos.

O Santo Padre Leão III celebrava em Roma, a Missa do Galo no ano 800 de nossa era. Ajoelhado diante do altar, em profunda oração, estava Carlos Magno, o guerreiro perfeito. A Cristandade acabava de atravessar momentos críticos. A invasão muçulmana, pelo Sul corroera o Império grego, apoderara-se dos Lugares Santos, destruíra o Cristianismo em todo o Norte da África, avassalara a península Ibérica, e já ameaçava a própria França, a filha primogênita da Igreja. Ao Norte, os bárbaros germânicos, ainda pagãos, chefiados por Witikind, eram um perigo iminente. E, além disso, na própria Itália, o ímpio rei dos lombardos, guerreava diretamente o Papa. Carlos Magno, porém, havia quebrado na Espanha, a audácia muçulmana; destronara o rei dos lombardos e reduzira à obediência as tribos germânicas, abrindo o caminho para a obra evangelizadora de São Bonifácio. O Santo Padre Leão III voltando-se do altar, veio até onde o seu guerreiro estava ajoelhado, e, inesperadamente, colocou-lhe na cabeça uma coroa de ouro, sagrando-o Imperador.

Todos os reis e príncipes cristãos não tardaram em prestar obediência e fidelidade ao novo Imperador, e, assim, toda a Cristandade ficou reunida debaixo de um só chefe temporal, como sempre estivera debaixo de um só chefe espiritual. Que belo Natal!


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