Plinio Corrêa de Oliveira
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Legionário, 1 de dezembro de 1940, N. 429, pag. 2 |
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Dizia Vicente de Carvalho, numa de suas poesias, que era seu desejo não ser enterrado após a morte. Seu corpo deveria ficar estendido sobre a praia, exposto ao mar, ao vento, ao sol, e assim ao ar livre apodrecer (sic), até que seu esqueleto branquejasse sobre a areia branca. Queremos crer que o ilustre poeta tinha mais em vista um efeito literário do que uma disposição de última vontade, ao expender semelhantes propósitos. Um cadáver apodrecendo à flor de terra poderá ser muito agradável dentro de uma rima; na realidade, será de uma inconveniência a todo transe, contrário ao menos requintado bom gosto. O asseio ainda é um preconceito que a civilização não conseguiu superar, com grande ira para os literatos e anti-intelectualistas. Ora, eis que aquilo de Vicente de Carvalho não queria poeticamente para si, certas pessoas andam querendo para seus animais de estimação. O “Diário Popular” deu-nos notícia, na semana passada, da existência, em nossa Capital, de um “Cemitério Zoófilo”, em que se acham enterrados mais de mil animais, e onde se podem ver mais de 150 túmulos, alguns do quais de granito e de mármore. Isto sem falar das inscrições, que se podem ler nestes monumentos, como por exemplo esta: “Ao adorado Pery, com grande saudade de seus donos”. O que é muito significativo, é o tom quase comovido com que o “Diário Popular” apresentou a sua reportagem. Isto fica muito bem num jornal que vem publicando artigos em defesa dos “direitos” das mães solteiras, do reconhecimento dos filhos espúrios, e outras coisas do mesmo naipe. Não importa que o dinheiro e o afeto desbaratados com animais mortos sejam roubados a criaturas humanas, que perecem à míngua de recursos e de um pouco de amizade. Só interessa que os instintos não tenham barreiras em suas expansões. O mais espantoso é que tal “cemitério” é uma dependência de certa União Infantil Protetora dos Animais. Se é verdade que se deve afastar as crianças de toda crueldade para com os brutos, não é menos verdade que é profundamente deseducativo este exagero, que dá aos animais mesmo tratamento que aos homens. Entretanto o “cemitério” existe. Ocupa um terreno de 50 metros de frente, por outros tantos de fundo. É pequeno; aí não caberão por certo os donos dos animais enterrados. E não será justo que sejam separados após a morte os que tanto se amaram em vida. Bem já dizia Augusto Comte que os vivos são cada vez mais governados pelos mortos... Nota: Alimárias = animais irracionais. |