Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Castidade

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de novembro de 1940, N. 427, pag. 2

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Há uma atitude muito comum e também muito significativa, que muitas pessoas costumam assumir em face do desregramento dos costumes. Quando se propõem medidas urgentes e severas para a preservação da inocência, quando se apontam fatores de dissolução moral como o cinema, os namoros, as praias, as piscinas, etc., tais pessoas acham que as coisas podem muito bem não estar más assim, que não há malícia mas ingenuidade, e que assim nada há de coibir, posto que nada há a temer, e, portanto, no fundo, os maliciosos somos nós, que estamos interpretando malevolamente hábitos inócuos e inocentes.

Quando, porém, estas mesmas pessoas são colocadas diante de um fato concreto, manifestamente imoral, acham-no muito engraçadinho, interessante, saboroso; e os que a condenam são uns hipócritas perversos, que não querem ver que os nossos tempos já não comportam semelhante rigidez estreita de princípios. O que, traduzido em bom português, quer dizer: estas pessoas não querem que se afastem as causas, porque amam os efeitos. Mas, não tendo coragem de o confessar abertamente, encobrem o seu desejo de que permaneçam os fatores de corrupção sob a capa da inocência. Se isto não for hipocrisia, nada mais o será.

Tudo isto vem a propósito da Conferência Nacional de Defesa contra a Sífilis, realizada em setembro último no Rio de Janeiro. Como já tivemos ocasião de dizer nesta mesma secção, aquela Conferência, que reuniu ilustres especialistas de todos os recantos do país, veio confirmar, com a voz da ciência, o ensino tradicional da Igreja a respeito da Castidade. Da primeira vez, comentamos a conclusão que recomendava aos jovens a guarda de perfeita continência até o matrimônio, como sendo o melhor meio de conservar a saúde. Porém, há outras conclusões de tamanho vulto, que somos obrigados a voltar ao assunto.

A Conferência desceu fundo, no âmago da questão. Uma objeção que se poderia fazer, e que de fato foi feita, àquela recomendação excelente de uma perfeita continência até o matrimônio é que, na situação atual, a continência não é guardada, e o problema consistiria em saber como conservar a saúde sem ela.

A Conferência, entretanto, que não quis limitar-se ao simplismo das meias soluções, deu resposta cabal em duas outras conclusões aprovadas: 1.º) “A necessidade das autoridades competentes censurarem a publicação de obras literárias de baixa espécie, assim como a sua divulgação”; 2.º) “Cooperar todos na campanha de moralização do cinema, combatendo os maus filmes e propagando os educativos, etc.” Isto sim, é que se chama encarar o problema de frente. Tudo o mais são paliativos, que nada resolvem. De nada adianta querer iludir os efeitos se não se tem a coragem suficiente para enfrentar as causas.

E para concluir, devemos transcrever mais uma conclusão, que é a definitiva pá de cal sobre um velhíssimo e emboloradíssimo tabu: “Divulgar, por todas as formas, que a prática da continência... não acarreta para ambos os sexos e em todas as idades distúrbios de saúde e alteração do desenvolvimento físico e intelectual.”


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