Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Legionário, 3 de novembro de 1940, N. 425, pag. 2

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Conhecido professor da Universidade Gregoriana de Roma afirma, para quem quiser ouvir, que a virtude cardeal que maior falta faz aos homens contemporâneos é a Fortaleza.

De fato, se em algum tempo tem lugar a lanterna de Diógenes, será certamente o nosso. Nada há tão raro em nossa época como um homem de verdade. O que há por aí são uns homúnculos desfibrados, “fantasmas de homens” como diria o poeta, homens sem virilidade, rasos, indistintos, incapazes de verdadeiramente amar como de odiar verdadeiramente, medíocres no bem como no mal, que não podem ser felizes nem infelizes, porque não são capazes de gozar nem de sofrer profundamente. Daí resulta esta ambiência morna do século, que é mais inumana do que desumana.

É verdade que o nosso tempo é dos mais cruéis que já se tenham conhecido, mas esta fria crueldade é quase involuntária em si mesma, resulta da esterilidade dos corações, desta falta de generosidade em que uma humanidade mofina se encarquilha e se diminui em sua própria vaidade. Por isso mesmo nunca se falou tanto em direito à felicidade, em amor, em compreensão; porém o que existe na realidade é sensualismo, comodismo, sem-vergonhismo: puros movimentos animais, nada de especificamente humano. Não será hoje uma novidade afirmar que o amor propriamente dito não é um sentimento, mas uma volição? E que só esta espécie de amor pode nobilitar o homem? É só isso que falta ao mundo moderno: sentir menos, amar mais.

Será de se estranhar, portanto, esta atual complacência com erros e as imoralidades? Nunca se teve tanto medo de condenar, de discernir, de separar os campos, como se o erro e a verdade, o bem e o mal não se devessem guerrear inevitavelmente. O homem moderno é “compreensivo”, e pronuncia juízos “sensatos”, que nada mais são do que irresponsabilidade e estultice.

Agora mesmo não há quem procure justificar a atitude execrável de Pétain? Não se quer “compreender” o que teria sido a “tragédia íntima” do homem de Vichy? Como se o único meio de compreender uma tragédia não fosse a condenação inexorável do crime ou o louvor ao dever cumprido a qualquer custo. Do contrário, a tragédia desaparece, para dar lugar ao melodrama declamatório, ridiculamente sublime, e inócuo. E, no entanto, já se chegou ao extremo de comparar Pétain a Jesus Cristo! Ou é inconsciência, ou é blasfêmia.

Aquele que tudo sacrificou pela causa da salvação da humanidade não pode ser comparado a quem impediu que a França sofresse galhardamente o martírio, como os antigos cristãos diante dos Césares, martírio que a redimiria de todos os seus pecados anteriores, e que lhe seria penhor certo de ressurreição.

Pétain não compreendeu, ou não quiz compreender, que o que menos estava em jogo na presente guerra eram os interesses nacionais franceses, mas os supremos interesses da Igreja contra o alastramento da heresia nazista. Da mesma forma, quando os muçulmanos puseram Viena em perigo, o que interessava não era a Áustria, mas a Cristandade ameaçada. Pétain não quiz ser Sobieski [o Rei polonês ardorosamente católico e que venceu a batalha contra os muçulmanos, n.d.c.]; pior para ele. A reconstrução Nacional francesa, que tem sido o seu frágil escudo, será uma pura abominação se contribuir, na menor parcela que seja, à vitória do neopaganismo nazista. Ai daquele que quiser transformar a filha primogênita e predileta da Santa Igreja em instrumento da heresia!


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