Plinio Corrêa de Oliveira

 

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“La grande peur”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de outubro de 1940, N. 423, pag. 2

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Os que estudam a história da Revolução Francesa, deparam-se logo de início com um episódio incrível, desconcertante, mas profundamente significativo, que é conhecido pelo nome de “La grande peur”, o grande medo. Logo após o motim de 14 de Julho [de 1789], que teve por consequência a queda da Bastilha, a célebre prisão onde jamais poderiam ser presas outras pessoas que não as da nobreza, espalhou-se por toda a França um pânico absurdo, que agitou loucamente todas as camadas da população. Foi assim que, simultaneamente, em todas as cidades, vilas, aldeias, e até no menor burgo do território francês, ganhou corpo o boato de que nas imediações se achavam grandes bandos de salteadores armados, que em breve iriam iniciar o saque e a destruição. O terror foi enorme, embora não pudesse ser mais tolo e irrefletido. Os habitantes dos campos buscavam refúgio nas cidades e, inversamente, os das cidades fugiam para os campos. Além disso, estas turbas, tangidas pelo medo, invadiam os quartéis e tomavam as armas que encontravam, a fim de se defenderem contra os bandidos.

É fácil de serem calculadas as consequências desta tremenda comoção coletiva para o prosseguimento da Revolução. Em primeiro lugar, a desordem social e a perturbação dos espíritos, que forneciam campo fecundo à atividade dos demagogos e arruaceiros; depois, o desarmamento das guarnições e, pelo contrário, o armamento do povo amotinado. Não poderia haver início mais auspicioso para uma revolução.

Há uma circunstância de transcendental interesse: a França de 1789 contava com escassos meios de comunicação. Como foi possível o alastramento geral e simultâneo de um boato tão inverosímil? Posteriores estudos históricos demonstraram a influência preponderante da maçonaria na origem e desenvolvimento da Revolução Francesa. Para quem tenha uma vaga ideia o que seja da organização desta sociedade secreta, com a sua rede a penetrar pelos pontos vitais de uma nação, “la grande peur” não será um fenômeno tão inexplicável.

Ora, ocorreu, em nossos dias, uma nova “grande peur”, cujo campo de ação foi a Bélgica e o norte da França. Em seu artigo de quarta-feira passada, da série que vem publicando no “Estado de S. Paulo”, André Maurois nos deu um quadro completo. O conhecido literato nos conta como os exércitos aliados foram prejudicados em sua ação pelo pavor que se apoderou da população belga e do norte da França, que fugia alucinada de seus lares, vendo alemães por toda parte, e julgando inútil qualquer resistência; pavor tão intenso, que forjava tais e tantos perigos, que chegou a contagiar as tropas, diminuindo-lhes a capacidade de resistência, e tirando, muitas vezes, a presença de espírito a comandados e comandantes. Este pavor surgiu, também, de um modo simultâneo e geral, tudo avassalou em pouco tempo, e estabeleceu o ambiente de desordem, que foi utilizado com tanto êxito pelo inimigo. Mas Maurois nos dá, ainda, um detalhe precioso: este pavor foi criado e cultivado por algumas pessoas, em cada localidade, com métodos idênticos e boatos semelhantes. Eram membros daquela organização que o sr. Hitler disse nunca haver existido.


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