Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Pombal

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 29 de setembro de 1940, N. 420, pag. 2

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[...] comemora o 4.° Centenário da Companhia de Jesus, nada mais conveniente do que rememorar a obra odiosa do ministro de Dom José I [Rei de Portugal], que não foi só nefasta aos Jesuítas, mas arrasadora para o Brasil e Portugal.

Em geral a história que se ensina nos colégios apresenta Pombal como um homem enérgico renovador, que, se por acaso agiu mal em certas ocasiões, realizou, contudo, uma grande administração de que o seu país necessitava. Isto, porém, não passa de inverdade clamorosa, que, exige retificação radical.

Pombal foi um autêntico revolucionário, instruído nas ideias deletérias, que preparavam a Revolução Francesa, e agente da Revolução em Portugal, onde a realizou com habilidade diabólica, sem as tremendas agitações que a acompanharam em outros lugares. Principalmente, cumpriu a tarefa que lhe fora designada no plano revolucionário e que consistia em colocar o seu próprio país na encosta íngreme de uma rápida decadência. Porque é preciso não esquecer que Portugal levara o Reino de Cristo aos quatro cantos da Terra, e era necessário, portanto, estancar esta força de expansão.

É verdade que Portugal, no século XVIII, atravessava um período de crise. Entretanto, é bem possível que a grande nação encontrasse as energias para voltar aos seus belos tempos, se Pombal não a tivesse privado de sua elite, desbaratando a velha aristocracia portuguesa, portadora das melhores tradições de heroísmo e de fidelidade, cerne rijo do Reino. O golpe foi certeiro, porque atingiu a cabeça da nacionalidade.

Entre nós, a ação política de Pombal não foi menos terrível. Nos tempos coloniais, aqui mesmo em São Paulo, verificou-se o surto pujante de uma civilização autóctone, rica em colorido, em formas, em expressões. Havia um ambiente quase medieval, de onde forçosamente nasceria uma cultura original, uma organização social interessantíssima e um direito próprio, originários do sertanismo, assim como a cultura europeia surgiu das Cruzadas.

Esta elaboração exigia, porém, uma larga autonomia, como de fato houve até o tempo de Pombal, e que nenhum perigo trouxe à integridade do Império português, em vista da fidelidade ilimitada, que os bandeirantes votavam à Coroa. Pombal, entretanto, agiu totalitariamente.

Enviou-nos capitães-mores que não tiveram outra preocupação a não ser acaparar as fortunas e achincalhar o brio dos antigos paulistas. Assim se extinguiu o bandeirismo, como também se extinguiram as conquistas de Portugal. E assim se truncou o ímpeto de nossa civilização, de maneira que depois disso outra coisa não vimos fazendo, a não ser procurar o fio de nossa história, sem conseguir encontrá-lo claramente. É daí que datam as tentativas, as imitações, e este algo de provisório e instável que se apoderou de nossa evolução como povo.

São esses os crimes inomináveis de Pombal contra a civilização, sem contar os que cometeu contra a religião.


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