Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Carlos Magno, Napoleão e Pétain

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 22 de setembro de 1940, N. 419, pag. 2

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Notícias provenientes de Vichy informam-nos de que o marechal Pétain, desenvolvendo os mesmos métodos dos grandes administradores franceses, de Carlos Magno a Napoleão, resolveu consultar diretamente a juventude através de dez enviados de sua imediata confiança. Assim, se o título que encima este “Comentário” pode parecer irônico, a culpa não será nossa, mas do Departamento de Propaganda, que já deve existir na França “renovada”.

Bem pensando, entretanto, não haverá culpa de espécie alguma. A estranheza, que nos invade, ao ver reunidos num mesmo tríptico os nomes de Carlos Magno, Napoleão e Pétain, não terá, provavelmente, outra origem que não seja a novidade do último. Além disso, é bem de ver que não passa de um preconceito infundado a ideia de que heróis são apenas os bem-sucedidos.

Exército de Pirro (318 a.C. — 272 a.C.), rei do Épiro ataca Lilybaeum (atual cidade de Marsala, na Sicília, Itália)

A História tem conhecido não poucos heróis desastrados. Vejamos, por exemplo, aquele Pirro, belicoso rei do Épiro; venceu aos romanos, não há dúvida, mas no esforço pela vitória perdeu o exército e, por fim, teve de empreender a retirada como se houvera sido o derrotado. No entanto, foi herói, e autêntico.

Vejamos, ainda, aquele destemido Ciro, o jovem, que empreendeu a conquista do trono persa, pretendendo derrubar a seu irmão, que o ocupava. Na batalha decisiva, seu exército avançava triunfante, quando o próprio Ciro, por muito temerário, foi morto; e com sua vida perdeu-se a vitória. Mas lhe restou sempre o heroísmo, que ninguém procurou contestar.

Ora, Pétain não perdeu o exército, mas também não ganhou a vitória; e se não perdeu a vida, tão pouco deixou de ser derrotado. E, assim, se por alguns aspectos se parece com os heróis já mencionados, por outros lhes é radicalmente diferente, o que, sem dúvida, só faz aumentar a originalidade ao heroísmo. O marechal Pétain é, portanto, um herói “sui generis”, como ainda não conheceu o mundo. Mas, se o seu heroísmo é diferente e único, nem por isso se há de produzir em nossos sentimentos alguma diferença, pois que os heróis hão de estar em proporção com os tempos. E, como em nossos tempos o mundo está às avessas, nada mais a calhar do que um herói também à avessas. Nem faltará ao corifeu do rejuvenescimento das instituições francesas a influência das boas águas, pois se os antigos se inspiravam nas de Hipocrene para cantar epopeias, não faltarão a Pétain as de Vichy [conhecida cidade francesa de águas, aonde se transferiu o governo francês colaboracionista com o regime de Hitler, n.d.c.] que, se não inspiram tanto nem tão alto, pelo menos ajudam a digestão.


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